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Para sobreviver, rinoceronte sul-africano pode perder chifre

Ruth Krause (av)8 de janeiro de 2015

Depois de ser salva da extinção há mais de um século, espécie está novamente ameaçada pela caça clandestina. Agora a África do Sul considera liberar o comércio do valioso chifre, a fim de salvar o rinoceronte branco.

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Foto: AP

Na última década, disparou o número dos rinocerontes caçados ilegalmente na África. Enquanto em 2004 dez animais foram mortos, no ano passado a cifra mais que centuplicou, alcançando o triste recorde de 1.100.

A África do Sul é lar de 90% dos rinocerontes-brancos (Ceratotherium simum simum) existentes. Aqui se decide a sobrevivência da espécie. Por isso, Pretória enviou tropas de solo e helicópteros para proteção dos animais.

No entanto, os territórios em questão são simplesmente vastos demais. O Parque Nacional Kruger, em que vive quase a metade dos rinocerontes sul-africanos, tem a extensão do Estado de Israel, por exemplo. Isso torna a vigilância dos animais não apenas trabalhosa, mas também extremamente custosa.

No momento, o governo da África do Sul e especialistas debatem se uma legalização do comércio não seria uma forma de acabar com a matança, já que fracassaram todos os demais esforços para deter os caçadores clandestinos.

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Chifres de rinoceronte confiscados na alfândega de Hong KongFoto: picture-alliance/AP

Falsas propriedades medicinais

A atividade ilegal se deve ao alto valor atribuído ao chifre dos rinocerontes. Na Ásia, há a crença de que ele tenha propriedades miraculosas, sendo capaz de curar desde sangramento nasal até o câncer. Isso, embora testes científicos tenham comprovado que o apêndice ósseo carece de qualquer valor medicinal, pois sua estrutura é formada apenas por queratina, como o cabelo ou as unhas humanas.

Ainda assim a superstição e a ganância criaram uma valorização vertiginosa: no mercado negro paga-se por um quilo de chifre de rinoceronte até 100 mil dólares – preços comparáveis aos do ouro ou da cocaína.

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Vítima dos caçadores ilegaisFoto: picture alliance/WILDLIFE

Paralelamente à proteção da espécie na África do Sul, outras iniciativas buscam atacar a raiz do problema. Campanhas de esclarecimento nos países asiáticos, sobretudo na China e no Vietnã, visam conscientizar que o chifre não tem efeito medicinal e que sua utilização pode acarretar a extinção do animal.

Contudo, esclarecimento não basta para conter a caça furtiva, assegura o perito sul-africano em proteção de espécies e economia Michael 't Sas-Rolfes. Em vez disso, ele sugere que se considere o comércio legal do chifre. "A ideia por trás é que, com uma oferta contínua, haverá menos estímulo para os caçadores matarem os animais por causa de seu chifre."

Vender o chifre para salvar o bicho

O outro efeito positivo do comércio legal seria a possibilidade de empregar os lucros resultantes em projetos de proteção. "Ficou muito caro preservar o rinoceronte branco, e em geral as organizações de proteção dos animais simplesmente não têm dinheiro suficiente para defender os habitats, de forma que seu contingente permaneça estável", argumenta Sas-Rolfes.

Existem diversas propostas sobre como operar esse comércio. Uma alternativa seria só vender as reservas de chifres já existentes – atualmente, a África do Sul possui mais de 18 toneladas de material confiscado ao longo dos anos, com valor superior a 100 milhões de dólares. Esse dinheiro poderia refluir para os programas de preservação, argumentam os partidários dessa opção.

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Apêndice ósseo vale seu peso em ouro – ou maisFoto: Roberto Schmidt/AFP/Getty Images

Outra opção seria permitir a venda de chifres "cultivados", ou seja retirados de animais vivos. O procedimento não envolve perigos nem sofrimento para os animais, que não precisam ser mortos, defende Sas-Rolfes.

"Em princípio, é como um corte de cabelo, contanto que não se corte o chifre rente demais. Ele cresce em seguida, e o procedimento pode ser repetido de três em três anos." Alguns proprietários de rinocerontes já praticam o corte, também para proteger os animais contra os caçadores. Porém eles não podem vender os chifres, até que seu comércio seja legalizado.

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"Rangers" protegem rinocerontes brancos na África do SulFoto: AP

Orgulho da nação

A proposta de legalização polariza os ânimos na África do Sul. Para o ambientalista, empresário e ativista Dex Kotze, a ideia não tem como funcionar. "Um problema, por exemplo, é que a demanda vai ser muito maior do que a oferta."

Segundo seus cálculos, o governo poderia suprir, por ano, cerca de 3,5 toneladas de chifres de rinocerontes vivos, enquanto o mercado exige quase 4 mil toneladas.

Outro problema é a fiscalização. "Há muita corrupção na China e também na África do Sul. Temos receio de que o dinheiro vá parar nos bolsos errados." Além disso, os trâmites políticos da legalização podem tomar tanto tempo demais que não se consiga salvar a espécie, observa Kotze.

Muitos ambientalistas sul-africanos estão frustrados, pois para eles o rinoceronte branco não é um animal como qualquer outro, mas sim o orgulho da nação. No fim do século 19, ele era considerado extinto, em todo o planeta, até que foram encontradas algumas dezenas de exemplares no oeste do país.

Os sul-africanos entraram para a história da proteção das espécies ao conseguir preservar o rinoceronte branco a partir desses poucos espécimes. Mais de cem anos mais tarde, esses esforços ameaçam ter sido em vão. Assim, não são poucos os que apoiam a legalização: antes um rinoceronte branco sem chifre do que morto.