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Para o HIV, ainda não há perspectiva de vacina

Gudrun Heise
1 de dezembro de 2020

Enquanto imunizantes são anunciados em tempo recorde para a covid-19, ainda se está longe de uma substância capaz de proteger da aids, quatro décadas após a doença ser descoberta.

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Vacina em teste é aplicada no Congo em 2018
Vacina em teste é aplicada no Congo em 2018Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Mednick

Apenas alguns meses após o novo coronavírus aparecer, já havia vários projetos promissores de uma vacina. Em contraste, ainda não há nenhuma à vista para o HIV, descoberto há cerca de 40 anos. A pergunta, desde então, se repete: por que é tão complicado? A resposta, de forma bem simples: o HIV é um vírus camaleão, capaz de sofrer constantes mutações.

Um dos fatores que complica o combate ao HIV é que ele tem uma superfície tridimensional complexa. Metade desta superfície é revestida de uma glicoproteína, e o sistema imunológico não consegue atacá-la, assim como uma eventual vacina.

O HIV é diferente

A pesquisa de vacinas provavelmente também estaria vários passos adiante se o HIV se comportasse como muitos outros vírus. Mas este não é o caso. Ele muda a forma de seu envelope viral enorme e rapidamente de uma geração para a outra.

Para poder combatê-lo, o sistema imunológico depende do reconhecimento do adversário. No entanto, se o vírus muda constantemente, o sistema imunológico não o reconhece, não o considera um patógeno e não o ataca. O HIV engana constantemente o sistema imunológico e parece estar sempre um passo à frente da pesquisa.

O HIV pertence ao grupo dos retrovírus. Eles têm a capacidade de inserir seu material genético no da célula hospedeira. Há muito tempo os pesquisadores vêm tentando entender como retrovírus se reproduzem a fim de desenvolver estratégias para uma cura. Sempre há estudos, mas sempre há novas decepções, porque o vírus parece ser simplesmente impossível de se controlar.

Estudos em andamento

O HVTN 702 foi um estudo de vacina em larga escala que começou na África do Sul, em 2016. Participaram 5.407 pessoas HIV negativas com idade entre 18 e 35 anos. Um esquema chamado "prime-boost" foi usado no estudo. Nele, duas vacinas foram combinadas.

A primeira vacinação – a vacinação "prime" – teve um ingrediente ativo diferente da vacinação "boost" posterior. A esperança era que o sistema imunológico reagisse de forma mais ampla do que com apenas uma vacina.

O estudo HVTN 702 foi baseado na vacina RV 144, a única que, em um estudo na Tailândia, até agora foi capaz de mostrar um efeito protetor – de 31% – embora muito baixo. O efeito de proteção durou apenas alguns meses. Houve 129 infecções pelo HIV entre os vacinados e 124 entre quem recebeu um placebo.

Em fevereiro de 2020, o estudo sul-africano HVTN 702 foi interrompido, porque nenhum sucesso claro era visível.

O teste com uma vacina chamada Mosaico é outro baseado no esquema de "prime-boost". Aqui também a primeira vacinação, chamada "prime", consiste em um ingrediente ativo diferente da "boost". Essa vacina contém uma proteína que replica a complicada superfície do HIV.

Os testes com macacos já foram realizados e têm mostrado resultados promissores. Essa combinação de vacinas reduziu a probabilidade de transmissão do HIV em quase 90%. Os ensaios clínicos estão em andamento nos Estados Unidos desde o final do ano passado. Ao todo, 3.800 pessoas estão participando.

O terceiro estudo que vale a pena mencionar é chamado Imbokodo. Ele também pertence à categoria de estratégias de "prime-boost", com 2.600 voluntários de diferentes países africanos. Até agora, o efeito protetor é de 67%. O estudo começou em novembro de 2017 e está programado para durar até fevereiro de 2022.

A profilaxia como alternativa?

O grande avanço ainda é esperado, mas os pesquisadores concordam em uma coisa: mesmo que uma das abordagens da vacinação contra o HIV seja bem-sucedida, não será possível esperar 100% de proteção em um futuro próximo. Mesmo uma vacinação com um efeito protetor de 60% a 70% seria um sucesso. Até lá, existe apenas a possibilidade de tratar a doença com medicamentos antirretrovirais.

Justamente por a pesquisa de uma vacina estar sendo realizada há tanto tempo sem sucesso, muitas esperanças se apoiam na profilaxia do HIV baseada em drogas na forma de PrEP (também conhecida como HIV-PrEP). A abreviação significa "profilaxia pré-exposição", ou seja, prevenção de possível contato com o HIV.

As pessoas soronegativas tomam medicamentos contra o HIV para se protegerem da infecção pelo vírus. Atualmente, está sendo procurada uma maneira de administrar esses medicamentos não como comprimidos diários, mas como injeções ou implantes durante vários meses.