Promessas não cumpridas
1 de janeiro de 2009A Revolução Cubana completa meio século em 2009. Desde o dia 1º de janeiro de 1959, quando Fidel Castro anunciou a queda do ditador Fulgencio Batista, muitas coisas mudaram na ilha. E outras permanecem inalteradas.
Entre a memória nostálgica do passado e as esperanças postas no futuro, o presente é, provavelmente, o que menos importa para os cubanos. Enquanto isso, multiplicam-se as vozes no exterior pedindo ao regime que inicie as ansiadas reformas. A União Europeia e os Estados Unidos são os dois principais atores que pretendem arrogar-se um papel de protagonista na transição cubana.
O artífice da revolução já não ocupa a liderança visível do país. Fidel Castro cedeu o poder ao seu irmão Raúl em julho de 2006 devido a uma cirurgia intestinal de emergência. Desde então, suas aparições públicas são reduzidas.
Os cubanos apenas podem vê-lo em mensagens televisivas esporádicas, mas a sua sombra continua sendo extensa. Raúl Castro é formalmente o presidente de Cuba desde fevereiro passado, mas a figura de Fidel segue sendo a referência.
Nos últimos dois anos e meio, Raúl deu início a reformas que, para muitos, não são suficientes. Das esperanças iniciais de uma rápida abertura na ilha passou-se a um certo ceticismo que apenas gestos decisivos vindos da Europa ou dos Estados Unidos parecem capazes de romper.
Ao menos essa é a opinião do diplomata Bernd Wulffen, embaixador da Alemanha em Cuba entre 2001 e 2005. Apesar de alguns sinais de abertura vistos nos últimos anos – aumento de investimentos estrangeiros, fim da proibição para a compra de computadores e celulares e uma certa liberdade de expressão por meio de blogs – "Raúl ainda não deu o passo que se espera dele, Fidel ainda tem influência", afirma Wulffen.
Quando acontecerão as mudanças?
É certo que já se passaram dois anos sem Fidel no poder, mas também é verdade que nesse período o governo dos Estados Unidos, um dos interlocutores dos quais se exigem mais ação, pouco fez. Por isso que a chegada de Barack Obama ao poder parece abrir novas perspectivas.
O presidente eleito poderia reverter medidas adotadas por George W. Bush, como a exigência de pagamentos antecipados nas compras de alimentos, ou reiniciar os diálogos sobre migração, interrompidos durante o governo Bush.
Mesmo que Obama possa introduzir rapidamente alterações modestas na política para Cuba, analistas duvidam que o embargo imposto em 1962 seja levantado ou que a proibição que impede turistas americanos de visitar a ilha seja suspensa. Em compensação, as restrições para o envio de dinheiro a Cuba por cubanos residentes nos Estados Unidos poderão ser relaxadas.
A postura europeia
Diante do risco de ser eclipsada pelo "efeito Obama", qual deverá ser a postura da União Europeia em relação a Cuba? Na opinião do Wulffen, a Europa deveria dialogar a todo custo com o governo da ilha.
Apesar de reconhecer que se trata de uma ditadura, Wulffen considera Cuba um caso especial, com fortes vínculos com a Europa e a cultura ocidental, em especial com a Espanha, e também com uma população de formação elevada, que em muitos casos frequentou universidades.
Com relação ao papel da Alemanha, Wulffen disse que Berlim deveria pôr sobre a mesa a questão dos direitos humanos em seu diálogo com Havana, "assim como o governo alemão faz com outras ditaduras, na intenção de conduzir a uma melhora da situação".
Sem cumprir suas promessas
O que está claro é que, 50 anos após o triunfo da revolução, Cuba segue gerando discussões acaloradas. Detratores e partidários falam da situação na ilha, e suas posições distam uma da outra como a noite do dia.
Os partidários lembram que a expectativa de vida é de 77 anos e 9 meses, quase igual aos 78 anos dos Estados Unidos. Ou que a taxa de alfabetização é de 99,8%, inferior apenas à da Geórgia, que é de 100%.
Os detratores falam da falta de liberdade, dos presos políticos e da situação econômica da ilha. Os cubanos ganham em média 20 dólares por mês, o que obriga muitos a aumentar sua renda negociando no mercado negro.
Afirmam também que os elogiados serviços públicos da ilha se deterioraram com a crise que se iniciou ao fim da União Soviética, em 1991.
Uma opinião endossada por Wulffen, que afirma que, naquele momento, Cuba desperdiçou a oportunidade de iniciar uma mudança.
Aspectos positivos ou negativos dos 50 anos de revolução que devem necessariamente ser postos na balança. "Apesar das escolas e dos hospitais, a revolução não cumpriu suas promessas", afirmou Wulffen.