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ReligiãoEuropa

Papa expressa vergonha por crimes sexuais na Igreja Católica

6 de outubro de 2021

Francisco afirma sentir vergonha, tristeza e dor pelos crimes cometidos por clérigos pedófilos. Mais de 300 mil menores, a maioria meninos, sofreram abuso ou agressão sexual em instituições da Igreja francesa desde 1950.

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Papa Francisco durante audiência no Vaticano em junho de 2021
Francisco expressou às vítimas a sua "tristeza e dor pelos traumas que sofreram"Foto: Stefano Spaziani/picture alliance

O papa Francisco expressou nesta quarta-feira (06/10) vergonha pela "longa incapacidade da Igreja" de lidar com casos de padres pedófilos, após a publicação de um relatório que denuncia mais de 300 mil casos de abuso ou agressão sexual dentro da Igreja Católica da França num período de 70 anos.

"É um momento de vergonha", disse Francisco durante a sua audiência geral semanal, expressando às vítimas a sua "tristeza e dor pelos traumas que sofreram".

De acordo com o relatório publicado na terça-feira por uma comissão independente, desde 1950 mais de 300 mil menores de idade, a maioria meninos, sofreram abuso ou agressão sexual em instituições da Igreja Católica da França.

Segundo o documento, escrito após dois anos e meio de pesquisas, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram vítimas de clérigos católicos ou religiosos entre 1950 e 2020.

O número de vítimas sobe para 330 mil se considerados os agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica, como professores de escolas, disse o presidente da Comissão Independente sobre os Abusos da Igreja (Ciase, na sigla em francês), Jean-Marc Sauvé, que é vice-presidente do Conselho de Estado da França.

"Infelizmente são números enormes", disse o papa, referindo-se ao relatório. "Desejo exprimir às vítimas a minha tristeza e a minha dor pelos traumas que sofreram, a minha vergonha, a nossa vergonha, pela longa incapacidade da Igreja em colocá-los no centro das suas preocupações", afirmou.

Francisco também encorajou bispos, fiéis, superiores e religiosos a continuarem todos os esforços para que fatos semelhantes não se repitam e expressou apoio aos religiosos franceses para superar "esta provação". 

O papa Francisco convidou também os católicos franceses a assumirem "suas responsabilidades para que a Igreja seja um lar seguro para todos".

Números podem estar subestimados

Após a publicação do relatório, o Vaticano afirmou que o papa expressava sua dor e dizia que os seus pensamentos se dirigiam "em primeiro lugar às vítimas, com grande dor, pelas suas feridas", agradecendo pela coragem de denunciar os fatos.

O presidente da Confederação dos Bispos da França, Eric de Moulins-Beaufort, expressou vergonha e horror e pediu perdão às vítimas.

O líder da associação de vítimas Parler et Revivre, Olivier Savignac, que contribuiu com a investigação, sublinhou que a elevada proporção de vítimas por agressor é particularmente "aterrorizante para a sociedade francesa e para a Igreja Católica".
 
O relatório teve origem no escândalo que envolveu o ex-padre Bernard Preynat, condenado, em 2020, a uma pena de prisão de cinco anos por ter abusado sexualmente de mais de 75 rapazes durante décadas.  

Uma das vítimas de Preynat, François Devaux, líder do grupo de vítimas La Parole Libérée, considerou que "com esse relatório, a igreja francesa vai, pela primeira vez, à raiz desse problema sistêmico".

Os responsáveis pelo relatório disseram que tanto o número de vítimas como o de agressores sexuais pode estar subestimado. "Algumas vítimas não ousaram falar ou confiar na comissão", disse Devaux.
  
as/lf (Lusa, AFP)