Energia nuclear em xeque
18 de julho de 2007Devido a várias panes recentes e a antigas falhas registradas em duas usinas nucleares no norte da Alemanha, aumenta a pressão do governo e de ambientalistas sobre as empresas do setor. As primeiras cabeças já começaram a rolar.
O presidente da operadora sueca Vattenfall para a Europa, o alemão Klaus Rauscher, renunciou ao cargo, nesta quarta-feira (18/07), em conseqüência de incidentes ocorridos nas usinas de Brunsbüttel e Krümmel, no norte do país. Na última segunda-feira, o chefe da divisão de energia nuclear da empresa, Bruno Thomauske, havia sido demitido.
Com base num relatório de 2006, publicado nesta quarta-feira na internet pelo governo do estado de Schleswig-Holstein, a organização ambientalista Deutsche Umwelthilfe (DUH) informou que o reator nuclear de Brunsbüttel funciona há anos com graves problemas de segurança.
A entidade apontou 165 "pontos precários, atingindo quase todos os setores centrais da segurança nuclear". Nesta quarta-feira, o reator de Brunsbüttel voltou a reduzir sua capacidade de geração, supostamente por sinais anormais no sistema de lubrificação de um transformador.
A DUH apontou problemas que já haviam sido descobertos pela empresa em 2001 e que até hoje não teriam sido complemente solucionados. Na época, foi feita uma inspeção de segurança, repetida a cada dez anos, e que deveria ter sido concluída em 2003.
A lista de falhas, que a Vatenfall vinha mantendo em segredo e que foi disponibilizada na internet pela Secretaria de Assuntos Sociais de Schleswig-Holstein, indica 707 pontos em aberto em 30 de junho de 2006.
Situação precária
Segundo o documento, faltam, por exemplo, comprovantes sobre a segurança contra a liberação de radioatividade, bem como informações sobre a consistência das tubulações e a confiabilidade dos sistemas eletrônico e de comando da usina.
Também a proteção contra ataques terroristas ou outras interferências internas e externas foi considerada insuficiente. "O relatório inclui quase tudo o que representa um perigo", disse o perito da DUH, Gerd Rosenkranz. O diretor-executico da organização, Jürgen Resch, pediu a apresentação dos comprovantes que faltam num prazo de quatro semanas. Caso contrário, o reator deve ser desligado, disse.
O porta-voz da Vattenfall, Ivo Banek, rebateu as críticas da DUH, argumentando que as questões em aberto não significam automaticamente pontos fracos. "Não havia nenhum ponto na categoria dos que precisam ser solucionados imediatamente", argumentou.
Rosenkranz comparou a lista de defeitos a um explosivo. Para resolver pelo menos cerca de 30% dos problemas, a Vattenfall teria de fazer pesados investimentos, acrescentou. Pelos planos do governo alemão, o reator de Brunsbüttel deve ser desativado definitivamente em 2009.
O governo de Schleswig-Holstein comunicou que já coloca em dúvida também a reativação da usina de Krümmel, desligada desde o incêndio num transformador, em 28 de junho passado. A secretaria estadual de Assuntos Sociais avalia a possibilidade de retirar a licença de operação da usina do grupo Vattenfall.
Pressão do governo
Em entrevista à DW-TV, o ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, garantiu que Krümmel "com certeza não será reativada enquanto não forem esclarecidos todos os problemas. Não é o caso de colocar a Vattenfall contra a parede. O que queremos saber é como aconteceu a pane".
Gabriel também defendeu a desativação antecipada de todas as usinas nucleares consideradas velhas na Alemanha. Um acordo fechado pelo governo anterior com o setor energético prevê a desativação gradativa de 17 reatores e a renúncia completa à energia nuclear no país até 2022.
O presidente do Atomforum, entidade que reúne os empresários alemães do setor, Walter Hohlefelder, admitiu que "o futuro da energia nuclear sofreu um duro revés político" com os problemas ocorridos em Krümmel e Brunsbüttel.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, acusou a Vattenfall, nesta quarta-feira, de ter cometido "erros dramáticos" em sua política de informação. "Por isso, minha compaixão é bastante limitada quando o empresariado é criticado, nesse caso", disse. (gh)