Palocci acusa Lula de receber propina da Odebrecht
7 de setembro de 2017Em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-ministro Antônio Palocci acusou nesta quarta-feira (07/09) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de receber vantagens ilícitas da Odebrecht como compensação pelo tratamento que a empreiteira recebeu durante os governos petistas.
"E eu tenho conhecimento porque participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do presidente Lula e ministro da Casa Civil da presidente Dilma", afirmou o petista.
Palocci acusou o ex-presidente de firmar um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht na transição entre o governo Lula e Dilma Rousseff, no final de 2010. A empreiteira se comprometeu a repassar ao partido 300 milhões de reais. O "pacote de propina", segundo o ex-ministro, incluía ainda o terreno para a construção do Instituto Lula e a reforma de um sítio em Atibaia.
"Quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou num certo pânico. E foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula", afirmou Palocci. O acordo previa o protagonismo da empreiteira não só nos contratos da Petrobras, mas em outros projetos do governo.
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Palocci teria sido convocado por Lula para decidir como o dinheiro seria recebido. O ex-ministro afirmou que a empresa não tinha um ganho direito com o pagamento da propina, mas deseja manter uma boa relação com o governo para garantir benefícios no futuro.
Ele disse ainda que Lula levou Dilma numa reunião com Emilio Odebrecht, dois dias antes da pose, para inteirá-la da relação entre a empreiteira e o governo. Palocci não participou do encontro, mas disse que ficou sabendo pelo próprio Lula, que teria ainda dito que o pagamento dos 300 milhões de reais foi confirmado na ocasião.
Terreno e apartamento
Ouvido na condição de réu no processo sobre a compra de um terreno para a construção do Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo, que fica no mesmo andar de um imóvel de propriedade do ex-presidente, Palocci confirmou que empreiteira adquiriu os imóveis e que Lula tinha conhecimento sobre essas transações.
Além de Palocci, Lula também é réu neste processo e é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção. A denúncia afirma que o presidente teria recebido o terreno (avaliado em 12,5 milhões de reais) e o apartamento (no valor de 504 mil) pelo seu papel como comandante de uma estrutura que organizava apoio parlamentar para firmar contratos entre a Odebrecht e a Petrobras.
"Eu até comentei com ele [Lula]: 'nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação [compra de imóvel para o Instituto Lula], nós vamos criar uma fratura exposta desnecessária'", afirmou Palocci.
O ex-ministro disse ainda que a compra do terreno, por meio de uma empresa laranja, foi operacionalizada pelo advogado Roberto Teixeira e pelo pecuarista José Carlos Bumlai. Lula e ele eram mantidos informados sobre a transação.
Acusados negam
A defesa de Lula negou que o ex-presidente recebeu propina e alegou que Palocci não tem provas das acusações. Em nota ao UOL, o advogado Cristiano Zanin Martins ressaltou que o depoimento é contraditório com os de outras testemunhas, réus, dos próprios delatores de Odebrecht, e com as provas apresentadas.
Zanin acusou ainda Palocci de tentar, com declarações de efeito, conseguir uma redução de sua pena. O ex-ministro está atualmente negociando um acordo de delação premiada com os promotores da Operação Lava Jato.
Em nota, o Instituto Lula também acusou Palocci de buscar a negociação com o Ministério Público Federal (MPF) e com o juiz Sérgio Moro para um acordo de delação premiada.
O instituto reafirmou que nunca solicitou ou recebeu qualquer terreno da Odebrecht e que não teve outra sede além daquela onde funciona atualmente. Lula disse ainda que "jamais cometeu qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República".
Palocci está detido no Paraná desde setembro de 2016. Em junho deste ano, ele foi condenado por Moro a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-ministro foi denunciado pelo MPF por supostamente participar de esquema envolvendo a atuação da empreiteira Odebrecht junto a Petrobras. Ele ainda é réu no processo no qual deu seu depoimento nesta quarta-feira.
Já Lula responde a cinco ações penais, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, obstrução da Justiça, tráfico de influência e organização criminosa. Ele já foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá. Ainda cabe recurso.
CN/abr/ots