Concerto inédito
26 de julho de 2011O primeiro concerto de uma orquestra israelense em Bayreuth, cidade que sedia um festival anual dedicado à obra do compositor alemão Richard Wagner, terminou com o público aplaudindo de pé a apresentação, nesta terça-feira (26/07).
"Foi uma alegria para nós tocar Wagner aqui", disse Roberto Paternostro, maestro da Israel Chamber Orchestra, após a apresentação naquela cidade da Baviera, estado no sul da Alemanha.
O concerto foi dominado por obras de compositores judeus, como Gustav Mahler, Tzvi Avni e Felix Mendelssohn-Bartholdy, além de uma peça de Franz Liszt. A noite foi encerrada com Idílio de Siegfried, uma das poucas peças sinfônicas de Wagner.
Os músicos e seu dirigente, Roberto Paternostro, disseram que, com o concerto, quiseram enviar um sinal de "aproximação, de tolerância e promover um intercâmbio cultural franco e historicamente consciente" entre Israel e Alemanha.
O evento não integra a programação oficial desta 100ª edição do Festival de Bayreuth, inaugurada nesta segunda-feira com a estreia de uma nova montagem da ópera Tannhäuser.
Mas, atendendo a um desejo do maestro, Katharina Wagner, bisneta de Wagner e uma das diretoras do Festival de Bayreuth, assumiu o patronato do concerto, dentro dos eventos em comemoração ao 200° aniversário do sogro de Richard Wagner, Franz Liszt. Ela classificou a apresentação como um "sinal importante e pioneiro".
Tabu em Israel
O músico alemão e seu festival ainda fazem despertar em Israel recordações do nazismo e do Holocausto. Wagner, que viveu entre 1813 e 1883, tinha posições antissemitas e era o compositor predileto de Adolf Hitler. O líder nazista era convidado regular da família Wagner e do festival, garantindo presença frequente no evento, mesmo antes de chegar ao poder, em 1933.
A obra wagneriana é inoficialmente banida de apresentações públicas em Israel, devido às posições antissemitas do músico e à utilização de sua obra durante a ditadura nazista.
O anúncio do concerto causou acaloradas discussões em Israel. Paternostro relatou que quase foi realizado um inquérito parlamentar com objetivo de cortar os subsídios estatais à orquestra. Ele também disse que foi atacado pessoalmente. "Eu não vou me deixar levar por discussões emocionais com essas pessoas", relevou o maestro. "Está claro para mim que parte da filosofia de Richard Wagner e a relação de Bayreuth com o regime nazista não são justificáveis nem podem ser ignoradas", ressalvou. Mas Paternostro não descarta que um dia a música de Wagner volte a ser executada em Israel.
O maestro definiu o concerto como uma ponte, dizendo estar convencido de que existe em Israel "uma geração que está crescendo, para a qual podemos ensinar a importância musical de Wagner de forma nova".
Controvérsia parecida foi provocada em Israel em 2001 pelo maestro argentino de cidadania israelense Daniel Barenboim, quando executou em Jerusalém um trecho da ópera Tristão e Isolda com a orquestra alemã Berlin Staatskapelle. Na ocasião, dezenas de pessoas da plateia deixaram a apresentação em sinal de protesto.
MD/dpa/afp
Revisão: Alexandre Schossler