Opções de Trump para contestar derrota diminuem
21 de novembro de 2020O cerco continua a se fechar sobre o presidente Donald Trump. Nas últimas 24 horas, o republicano acumulou uma série de revezes na sua tentativa de contestar os resultados eleitorais que apontam sua derrota nas eleições presidenciais dos EUA. Dois estados cujos os resultados o presidente precisava desesperadamente reverter anunciaram que devem certificar o democrata Joe Biden como vencedor.
As primeiras notícias negativas para Trump vieram da Geórgia, quando o secretário de Estado, Brad Raffensperger, anunciou que uma recontagem manual e auditoria de todas as cédulas lançadas no Estado apontaram pela segunda vez a vitória de Biden. O ex-vice-presidente é o primeiro democrata a vencer na Geórgia desde 1992.
Os resultados, certificados pelo secretário do Estado da Geórgia deram a Biden 2,47 milhões de votos, contra 2,46 milhões de votos de Donald Trump.
A recontagem não ocorreu por suspeitas de fraude, mas porque uma lei do estado exige que seja feita uma nova contagem automática caso a diferença entre os votos obtidos pelos dois candidatos seja inferior a 0,5%. "Os números não mentem", declarou Brad Raffensperger. "Representam o veredito do povo."
Horas depois, uma delegação de republicanos de Michigan, que se reuniu com Trump na Casa Branca, disse não ter nenhuma informação "que mudaria o resultado da eleição em Michigan". Biden venceu Trump no estado por quase três pontos percentuais, abocanhando mais 16 votos no colégio eleitoral.
"Seguiremos a lei e seguiremos o processo normal em relação aos eleitores de Michigan, assim como dissemos ao longo desta eleição", afirmaram os dois principais líderes republicanos do estado em comunicado.
"Os candidatos que ganham mais votos ganham as eleições e os votos eleitorais de Michigan", diz o comunicado. A forma como Trump contatou as autoridades eleitorais os republicanas de Michigan em meio ao processo de certificação de votos em andamento foi condenado por democratas e especialistas em lei eleitoral como uma intrusão perigosa no processo eleitoral. Bidene venceu em Michigan com vantagem de mais de 154 mil votos.
No Colégio Eleitoral, que determina o vencedor, Biden obteve 306 votos -muito acima dos 270 necessários - e Trump 232.
No Wisconsin, a equipe de Trump também pagou por uma recontagem parcial, embora as autoridades eleitorais estaduais tenham dito que isso provavelmente só aumentará a vantagem de 20 mil votos de Biden no Estado, que tem 10 votos no Colégio Eleitoral.
Cada vez mais isolado, Trump tem apelado para a divulgação de notícias sem comprovação nas suas redes sociais para tentar propagar a ideia de que a eleição foi marcada por fraudes. Na noite de sexta-feira, ele chegou a retuitar uma entrevista do ativista bolsonarista Allan dos Santos ao canal de TV pró-Trump One America News Network. Santos é um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito das fake news e um costumaz propagador de boatos na internet.
Em um inglês precário, Santos disse ao canal que identificou fraudes na eleição americana, mas nem ele nem o canal apresentaram provas. O Twitter inseriu na publicação de Trump um alerta de que as informações divulgadas na publicação são duvidosas.
Nos últimos dias, Trump e membros da sua campanha têm propagado acusações cada vez mais mirabolantes. Na quinta-feira, numa coletiva de imprensa, o advogado pessoal do presidente Donald Trump, Rudolph Giuliani acusou o bilionário George Soros de ter conspirado com os democratas para dar a vitória a Joe Biden. Outra advogada, Sidney Powell, chegou a acusar o falecido líder venezuelano Hugo Chávez de estar por trás de um plano para fraudar as eleições nos EUA. Mas o que mais chamou a atenção na coletiva foi o líquido escuro que escorreu sobre o rosto de Giuliani enquanto ele falava: uma mistura de suor com tintura de cabelo.
Derrotado por Biden tanto na contagem do Colégio Eleitoral quanto no voto popular, segundo projeções, Trump tem se recusado a aceitar o resultado e vem ampliando sua ofensiva para contestar a eleição nos tribunais, levantando acusações de fraude, sem apresentar provas.
Nos últimos dias, ele também vem afirmando com insistência que é o verdadeiro vencedor do pleito, mesmo com Biden tendo acumulado mais delegados no Colégio Eleitoral e 6 milhões de votos populares a mais que Trump. O republicano também tem tumultuado o processo de transição, se recusando a compartilhar dados com a equipe de Biden.
Paralelamente, Trump também celebrou os bons resultados do Partido Republicano na eleição para a Câmara dos Representantes, mas neste caso evitou apontar qualquer suspeita de fraude no pleito.
Não é a primeira vez que Trump recorre a esse tipo de tática sem qualquer base. Em 2016, ele venceu no Colégio Eleitoral, mas perdeu no voto popular para Hillary Clinton. Com o ego ferido, disse que os democratas haviam arregimentado milhões de imigrantes ilegais para votar. Uma comissão foi formada pelo seu governo para investigar. Nenhuma evidência de irregularidade foi encontrada, e o colegiado foi extinto em 2018.
Oficialmente, o vencedor da eleição só é anunciado em 14 de dezembro, quando os delegados de todos os 50 estados se reúnem em Washington no Colégio Eleitoral para confirmar os resultados estaduais.
Não há nos EUA um órgão central que compile os resultados estaduais. Normalmente, o resultado é projetado logo após o pleito pela imprensa e institutos de pesquisa, que compilam dados das autoridades eleitorais estaduais. O anúncio do desfecho da eleição é facilitado quando um dos lados concede a derrota – o que não vem sendo o caso com Trump.
JPS/rt/afp/lusa/ots