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Oposição iraquiana mostra cisão e amadorismo

Estelina Farias21 de agosto de 2002

Com ocupação da embaixada do Iraque em Berlim, um novo grupo iraquiano de oposição entrou no debate sobre uma destituição do presidente Saddam Hussein. Mas mostrou seu amadorismo e a cisão da oposição no exílio

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Líder oposicionista Ahmed Chalabi é visto com desconfiança pelos EUA por causa de uso suspeito de ajuda financeiraFoto: AP

O surgimento do novo grupo "Oposição Democrática Iraquiana na Alemanha", de sigla DIOD em alemão, aumentou para sete as facções que fazem oposição ao regime de Bagdá dentro e fora do Iraque. O "Oposição Democrática Iraquiana na Alemanha" era completamente desconhecido das autoridades alemãs, pelo menos oficialmente, até o momento em que invadiu a representação diplomática, na terça-feira (20), como "o começo da libertação do povo iraquiano".

De um lado, a forma de ocupação e tomada de reféns, por cinco homens armados com sprays de gás irritante, revelou o despreparo do grupo. De outro, o distanciamento da operação em Berlim pelos demais grupos no exílio evidenciou desunião e falta de uma estratégia comum das oposições iraquianas para derrubar o inimigo comum.

Os diversos grupos religiosos, étnicos e políticos anseiam por uma mudança em Bagdá, mas agem de forma desarticulada. Os que permanecem no Iraque têm um certo apoio da população, mas vêem com desconfiança os propósitos dos EUA e não têm ajuda financeira do inimigo mais poderoso de Saddam Hussein. Já os que vivem na Europa e na América têm grande ajuda financeira, principalmente de Washington, mas são incapazes de mobilizar a população iraquiana. Líderes de origens curda, cléricos xiitas monarquistas, comunistas e outros grupos parecem ter em comum apenas a repulsa pelo regime de Saddam Hussein, que é sunita. 65% da população iraquiana é composta de xiitas.

Tentativa de golpe

Entre os sete grupos que contam com ajuda financeira e apoio logístico dos EUA desde o "Irac Liberation Act" do governo de Bill Clinton, de 1998, o Congresso Nacional Iraquiano (CNI), com sede em Londres, desempenha um papel destacado. Criado em 1992 como organização de cúpula de diversos grupos, ele participou de uma tentativa de golpe fracassada contra Saddam Hussein, em 1995. O dirigente do CNI, Ahmws Chalabi, é um dos mais proeminentes líderes oposicionistas iraquianos, mas passou a ser visto com desconfiança pelo Departamento de Estado americano por causa de uso suspeito de ajuda financeira que recebeu dos EUA. Além disso, o CNI vem perdendo apoio dos comunistas e de grupos islâmicos que antes faziam parte da coalizão.

No norte do Iraque, o Partido Democrático do Curdistão e a União Patriótica do Curdistão, que representam, supostamente, 12 milhões de curdos, fazem resistência contra o poder central em Bagdá. Nessa zona de exclusão de vôos do Iraque, a minoria curda goza de grande autonomia e proteção dos EUA e seu maior aliado, a Grã-Bretanha. Mas foi necessária muita pressão de Washington para que os líderes dos dois grupos encerrassem sua luta interna.

No sul do Iraque, outra zona de exclusão protegida por aviões americanos de combate, principalmente o Conselho da Revolução Islâmica no Iraque representa os xiitas. Embora sendo maioria, os árabes xiitas são reprimidos maciçamente pelo regime de Bagdá. Mas o governo americano teme que uma tomada do poder em Bagdá pelos xiitas, sob a liderança de Mohammed Barkr el-Hakim, possa resultar na criação de um Estado islâmico no Iraque nos moldes da teocracia reinante no Irã.

Apoio interno e externo

O CNI condenou a ocupação da embaixada do Iraque em Berlim. Mas um porta-voz do DIOD, responsável pela operação, garantiu que todos os grupos de oposição iraquianos têm uma meta política comum: libertar o Iraque do regime de Saddam Hussein. O "Oposição Democrática Iraquiana na Alemanha" vê-se como representante legítimo do povo iraquiano e, segundo o porta-voz, que não revelou seu nome, conta com o apoio de vários países e tem um líder no Iraque.

Ele não quis dizer, porém, com quantos seguidores o DIOD conta no Iraque. Autoridades alemãs de segurança supõem que o grupo responsável pelo incidente em Berlim tenha sido criado recentemente ou seja dissidente.