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Opinião: É hora de o Chipre deixar a zona do euro

Bernd Riegert (sv)20 de março de 2013

A decisão do Chipre de rejeitar o plano de resgate da UE e do FMI é um erro e um passo em direção ao abismo, ou seja, à saída do país da comunidade monetária, opina o jornalista Bernd Riegert.

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O Parlamento cipriota cometeu um erro fatal. A rejeição das condições para o pacote de resgate da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) terá amplas consequências tanto para o próprio Chipre quanto para os demais 16 países da comunidade monetária.

A disponição de garantir um empréstimo de 10 bilhões de euros aos bancos falidos e ao Estado – inadimplente por causa desses bancos – foi uma oferta generosa da União Europeia e do FMI.

No entanto, o Parlamento em Nicósia, pressionado por correntistas irritados, seguiu uma argumentação absurda. Não se trata de submeter o Chipre a um domínio externo ou de fazer valer interesses alemães. Trata-se de manter vivo esse pequeno Estado, que por volta de julho deverá se tornar inadimplente.

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Bernd RiegertFoto: DW

A parcela de contribuição prevista para o Chipre, em torno de 5,8 bilhões de euros, era adequada. A ideia de que essa contribuição deveria ser tirada do bolso dos correntistas e dos investidores dos bancos cipriotas foi uma decisão conjunta dos países da zona do euro, com a participação do próprio governo do Chipre.

Hoje já está claro que o Chipre passou anos gastando mais do que poderia. O modelo econômico baseado na atração de capital externo por meio de uma baixa carga tributária e do mau controle do setor bancário explodiu no mais tardar em meados do último ano. Pois foi nesse momento que o governo do Chipre entrou com um pedido de ajuda internacional, depois de os bancos parcialmente estatizados terem se perdido com a especulação. A dívida pública ameaçava – e ainda ameaça – sair de controle. A suposta vitória dos correntistas irados não mudou em nada essa situação.

Agora a zona do euro, se ainda tiver interesse em manter o Chipre na união monetária, terá que iniciar negociações urgentes com Nicósia. Até junho ainda haveria tempo para encontrar uma solução, pois nesse mês vence mais uma parcela da dívida pública do país. É praticamente incompreensível que os ministros das Finanças da zona do euro tenham calculado tão equivocadamente os efeitos de sua oferta ao Chipre. O Eurogrupo pode ser acusado de mau gerenciamento e erros crassos de comunicação.

Ao governo cipriota só resta agora a opção de conseguir dinheiro de alguma forma. No lugar de uma contribuição obrigatória para os correntistas poderão ser necessários aumentos drásticos de impostos. Se isso também não for viável, os bancos do Chipre irão à falência. E aí os correntistas sofrerão perdas ainda maiores do que os 6,75% ou 9,9% que estavam sendo exigidos.

Se os bancos e com isso o Estado cipriota falir, o país será obrigado a deixar a zona do euro. E os 800 mil habitantes do Chipre terão que tentar se reerguer com uma nova moeda própria. A consequência mais provável disso é a enorme perda de patrimônio em decorrência da desvalorização da nova moeda.

Se o Chipre tiver que deixar a zona do euro, a confiança dos investidores internacionais na união monetária ficará seriamente abalada. A crise de endividamento da Espanha e da Itália poderá ganhar novo impulso. Já agora a confiança dos investidores na zona do euro está por um fio.

A confiança nos bancos cipriotas deve estar, de uma forma ou de outra, perdida. A partir desta quinta-feira (21/03), quando os bancos forem reabertos, correntistas e investidores tentarão sacar o máximo possível de dinheiro. Também isso poderá levar a uma falência rápida dos bancos.

O risco de contágio é real. Por isso o Chipre é "relevante para o sistema", mesmo considerando que o PIB do país, se comparado ao resto da zona do euro, é muito baixo. Os ministros das Finanças dos países do euro precisam desenvolver agora, a qualquer custo, um plano de como deixar um país falir de forma ordenada e depois retirá-lo da zona do euro.

Se a zona do euro tentar manter o Chipre na comunidade monetária a qualquer custo, isso poderá levar outros países em crise a enfraquecer seus esforços de consolidação e austeridade. E pôr em xeque toda a arquitetura de resgate e a confiança no euro no resto do mundo.

Os deputados no Chipre opuseram-se à poderosa União Europeia, mas o preço que vão pagar é incalculável. Ele poderá ser muito alto. Muito mais do que a planejada taxa sobre os depósitos bancários, que no fim das contas também atingiria, em grande parte, investidores estrangeiros. Aí a alegria nas ruas do país passará bem rápido.