A chanceler federal alemã, Angela Merkel, precisa dar ao presidente da França, Emmanuel Macron, uma resposta sobre as ideias deste para a Europa. Mas também se espera dela uma reação ao fulminante entusiasmo pró-europeu do político de 40.
Até agora, a democrata-cristã está devendo ambos, e assim arrisca perder a grande chance de coroar sua longa chefia de governo com um grande projeto franco-europeu para a Europa.
Que Merkel espelhe o entusiasmo emocional de Macron, é algo que os europeus podem esperar sentados. Como poderia ser diferente, na atual configuração: um jovem herói, que se candidata sem partido estabelecido e enfrenta as sinistras forças do nacionalismo apostando numa União Europeia declarada morta; que após a vitória nas urnas se apresenta a seu povo e, ao som do hino da Europa, promete algo de grande, novo, maravilhoso.
Se a líder conservadora alemã quisesse responder à altura, ela teria que se apresentar diante de um Portão de Brandemburgo iluminado de azul e amarelo, bradando à juventude que agita bandeiras da UE: "A Europa é a nossa chance, nosso futuro, nossa felicidade!" É melhor esperar sentado.
Esse tipo de páthos não é o estilo de Merkel e, depois de 12 anos no poder, ela dificilmente teria meios de comunicar tal explosão de sentimentos de forma convincente. Ela sabe desse déficit, e por isso deixa com prazer a parte exuberante da renovação da UE para o carismático Macron.
Por isso, em seu discurso de louvor durante a entrega do Prêmio Carlos Magno a seu amigo Emmanuel, ela reconheceu: a Europa precisa a paixão de Macron, sua capacidade de se entusiasmar, sua inspiração. Mas um ministro europeu de Finanças, um mecanismo de garantia bancária, transferências financeiras na UE? "Sem dúvida!" é a resposta que até agora não se escutou de Merkel.
Ao formular suas ideias sobre o futuro da Europa, Angela Merkel permanece em terreno seguro. Ela quer controlar com mais eficiência a imigração para o continente, cuidar por mais segurança, apresentar-se no palco mundial como potência europeia.
Nesses pontos ela sabe que conta com o respaldo não só de Macron, mas também da maioria na UE e na Alemanha: 82% da população do país acha bom que o francês queira fazer o bloco europeu avançar com suas ideias, segundo a mais recente pesquisa Deutschlandtrend da emissora ARD. Quando se trata das propostas dele para uma política de finanças europeia mais coesa, porém, já são 48% dos alemães a achar que elas vão longe demais.
É uma velha preocupação dos alemães que o seu dinheiro suado vá ser esbanjado em Roma, Madri ou Atenas. Merkel, é claro, conhece essas ressalvas contra uma equiparação financeira na Europa, partindo até mesmo de sua própria ala conservadora.
Tanto partes da União Democrata Cristã / Social Cristã (CDU/CSU) como os populistas de direita reinterpretaram as transferências de verbas dentro da UE como uma suposta "União da Transferência". A premiê deveria partir para a ofensiva, desmontar esse conceito de guerra e esclarecer como, há anos, as transferências realmente transcorrem.
Pois, graças à UE, a Alemanha, campeã de exportações, não tem mais que se debater com incômodas taxas aduaneiras, cotações monetárias flutuantes e engarrafamentos nas fronteiras europeias. Também é graças à UE que a Alemanha é tão bem-sucedida e lucra com o crescimento e estabilidade no restante do bloco.
A Alemanha deveria se engajar por isso. Ou, como formula o comissário alemão da UE Günther Oettinger: "Não se pode só exportar [automóveis Mercedes-Benz] Classe S e de resto dizer: 'Não tenho nada a ver com a Europa.'" Nisso, o conservador suábio está totalmente de acordo com Macron, que numa entrevista recente à DW instou os alemães a superarem seu tabu de transferências financeiras dentro da UE.
Angela Merkel poderia dar um grande passo no sentido de uma Europa mais solidária, mais resistente às crises. Quando, se não agora?
Com suas políticas para refugiados e de austeridade, a chanceler federal pressionou muito da UE. Agora ela tem a chance de, com a ajuda de Emmanuel Macron, ainda se transformar numa grande europeia, numa empreendedora generosa guiando a Europa em direção a um futuro de êxito, ao lado do carismático visionário.
Macron-Merkel poderia, então, soar como Adenauer-De Gaulle ou Kohl-Mitterand. A premiê alemã provavelmente deixará o chefe de Estado francês e toda a Europa esperando até a próxima cúpula da UE, em junho. Aí, ela vai ter que dar a resposta certa – por si, por seu país e pela União Europeia.
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