Opinião: É hora de admitir que a Grécia precisa de um perdão
Ao que tudo indica, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, e os homólogos de ambos na União Europeia são mestres em recalcar a realidade. Eles insistem que está fora de questão um corte ou um perdão de dívidas para a Grécia, agindo simplesmente como se, em algum ponto no futuro distante, Atenas vá mesmo estar apta a pagar o que deve.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e muitos economistas renomados, em contrapartida, expressaram aquilo que os contribuintes da Europa há muito já sabem: 11 milhões de gregos nunca conseguirão saldar uma montanha de débitos de 323 bilhões de euros. Um corte, seguido de um significativo alargamento da carência da dívida restante, dariam novamente uma perspectiva a esse país tão maltratado e abalado.
Seria bom os políticos europeus serem mais honestos com os eleitores e contribuintes. Para isso teriam que admitir que foi uma ideia estúpida e absurda introduzir uma moeda única antes da adoção de políticas econômica, fiscal e social conjuntas. Eles teriam que admitir que foi uma ideia absolutamente estúpida convidar países meridionais de moeda fraca para participar desse clube monetário, tirando-lhes, assim, a possibilidade de corrigir erros na política econômica com a desvalorização de suas moedas nacionais.
Mais honestidade significaria também, no entanto, pôr tudo em pratos limpos para os contribuintes: o dinheiro dos primeiros dois programas de resgate financeiro se foi, e o que quer que se injete nesse terceiro programa também estará perdido.
Mas pelo menos se deveria ser suficientemente honesto para não declarar as novas ajudas como "créditos" e sim pelo que elas de fato são: transferências para um povo em necessidade. A cláusula de no bailout do Tratado de Lisboa, que proíbe um membro da UE de assumir as dívidas de outro, nunca foi mesmo levada a sério por ninguém, muito menos pelos especuladores dos mercados financeiros.
É sabido que cerca de 70% da população grega é a favor da permanência na zona do euro – até porque, com o euro, a elite que estiver no poder fica impossibilitada de premiar seus comparsas e sua clientela imprimindo dinheiro. Tamanha coragem deveria ser recompensada, não só com transferência de recursos, mas também com apoio técnico.
Assim, por exemplo, se Atenas não quiser ou não puder diminuir seu inflado aparato de funcionários públicos, poderá pelo menos treiná-lo. Estou seguro de que, com suficiente ajuda técnica do resto da Europa, também os gregos podem aprender a fazer contabilidade corretamente, montar um sistema eficiente de arrecadação e administração de impostos e criar órgãos de cadastro de terras.
Em primeiro lugar, contudo, os bancos do país terão que ser recapitalizados. Pois, sem dinheiro e sem confiança nas instituições financeiras, até mesmo a mais robusta das economias entra em colapso – fora a questão se um anão econômico como a Grécia realmente precisa de quatro grandes bancos.
Antes de tudo, porém, Merkel e seu tesoureiro deveriam considerar um corte ou até mesmo o perdão total da dívida grega. Isso, aliás, já aconteceu antes. Depois da Segunda Guerra Mundial, cerca de 70 países cobravam em torno de 30 bilhões de marcos da então jovem República Federal da Alemanha. No Acordo de Londres de 1953, sobre a dívida externa alemã, os credores perdoaram cerca de metade desses débitos – e só assim possibilitaram o milagre econômico alemão do pós-Guerra.