O que é que ainda está por vir à tona no caso Volkswagen? É claro que já era de esperar os novos embaraços que se seguiriam, depois das primeiras revelações no escândalo das emissões de CO2 na maior montadora da Europa. Agora, as acusações vêm numa avalanche, e de todos os cantos.
Por um lado, dos Estados Unidos, onde as autoridades ambientais não param de apontar novas irregularidades. Por outro, as investigações internas da supervisão da empresa e dos conselheiros e advogados externos, convocados por ela trazem à luz cada vez mais detalhes. E, como se não bastasse, agora também o órgão responsável pela segurança nas autoestradas nos EUA tem a montadora alemã na mira, por não ter seguido as normas ao comunicar os dados sobre acidentes.
Tudo isso resulta num coquetel explosivo. Que não necessariamente detonará de súbito nas mãos do novo diretor executivo, Matthias Müller, mas já é penoso o suficiente manobrar a multinacional por um terreno tão minado em direção a tempos melhores. Até porque não é certo se as pessoas que agora atuam nela estão realmente livres de qualquer culpa.
Claro, Müller era antes o chefe da Porsche e estava bem longe das falcatruas dos espertalhões da Volks. Mas não estaria próximo o suficiente para saber de alguma coisa, sim? O mesmo se aplica ao antigo diretor financeiro Hans Dieter Pötsch, que durante anos operou no centro do poder da empresa.
Há algumas semanas, Pötsch foi nomeado presidente do conselho de administração – e, assim, investigador-chefe da empresa de fato. O que se escutou da parte dele, nas últimas semanas? Praticamente nada e, quando sim, então frases tenebrosas como a do comunicado do grêmio que ele encabeça, na terça-feira (03/11), após a divulgação das novas irregularidades: a nova questão deve ser um estímulo para o conselho de administração fazer todo o possível para... blablablá. Chega!
Ou a direção da Volkswagen ainda não percebeu que a bomba-relógio está tiquetaqueando, ou eles sabem, mas querem evitar o pânico em seus quadros e na bolsa de valores. No que tange à bolsa, a tática é inútil: nesta quarta-feira, as ações da empresa caíram como uma pedra, sem que haja um fim à vista para a queda.
Será que a chefia da multinacional e seus supervisores têm realmente noção do que está em jogo? É ponto pacífico que a infâmia das ações deles se reflete sobre toda a indústria alemã. Pois, afinal, ao lado da Siemens, a Volkswagen é o principal conglomerado industrial do país. Mas que mar de lama ela não deve ser, se depois de todo esse tempo nada realmente concreto é comunicado para fora, a não ser novas irregularidades?
Quando, afinal, o público vai ficar sabendo mais? Os proprietários de carros da Volks afetados continuam na incerteza de como e quando vai começar o recall. Houve um único comunicado nos grandes jornais alemães, em que a montadora se desculpava e pedia confiança. Isso foi quatro semanas atrás. É tudo? Quando se lê que há milhares de variantes diferentes para reparar todos os veículos afetados, será essa uma desculpa velada para todo esse silêncio?
Não, isso mostra, antes, que a gigante automobilística simplesmente perdeu o controle, no caminho para o topo mundial do setor. É bom que o novo CEO tenha dado um fim a tal loucura, pelo menos inicialmente. Mas isso não basta, de forma alguma. Agora é preciso colocar realmente todas as cartas na mesa, e urgentemente.
O recolhimento dos veículos afetados precisa recomeçar logo. Ou então é preciso uma indenização para os proprietários afetados. O fato é que algum tipo de sinal tem que partir da Volkswagen. Provavelmente, o esclarecimento do escândalo continuará ocupando o conglomerado ainda durante anos. Importante é ele não deixar sua clientela esperando por tanto tempo assim.