Os colombianos adoram o Congresso, adoram insultá-lo. Todos os possíveis males do país são atribuídos a este suposto "ninho de ratos", ocupado pelos "mesmos de sempre", que, surpreendentemente, os mesmos colombianos estão escolhendo e reelegendo há mais de meio século.
Eleição após eleição, a maioria dos 36 milhões de eleitores colombianos prefere não votar, na crença de que estão punindo os corruptos. E muitos daqueles que vão às urnas vendem seus votos aos predadores do dinheiro público por algum prato regional típico, servido num pote de plástico. E então começam outros quatro anos de insultos aos políticos eleitos.
Mas, nestas eleições legislativas de 11 de março de 2018, há sinais de mudança, que ainda são poucos, mas decisivos. Apesar da cifra vergonhosa de 80 candidatos investigados por corrupção, os eleitores colombianos estão começando a levar a política mais a sério, graças à ausência de guerra.
O maior triunfo desta eleição foi que as Farc puderam participar do escrutínio público pela primeira vez em meio século. Muitos ex-guerrilheiros votaram pela primeira vez em suas vidas – antes eles impediam com armas os camponeses de ir às urnas. E outros eleitores, que sempre abominaram a luta armada, puderam votar nas Farc. Sua decisão respeitável.
Para isso, foi selado o Acordo de Paz. As suas boas-vindas à política também incluem um pouso forçado na realidade: apenas 52.532, de mais de 36 milhões de colombianos, acreditam nas Farc, que não ganharam um único assento por esforço próprio – além dos cinco garantidos na Câmara dos Deputados e dos cinco no Senado. As Farc obtiveram apenas 0,34 dos 3% do limite necessário para entrar no Congresso.
Isso mostrou que o "castrochavismo" das Farc é apenas uma arma do medo espalhada por aqueles que não têm propostas de futuro para a Colômbia. E onde foram parar os supostos milhões de dólares do narcotráfico com os quais as Farc supostamente levaria o Congresso a transformar a Colômbia em outra Venezuela? Outra mentira para desqualificar não apenas as Farc, mas toda a esquerda democrática na Colômbia.
A inaptidão do presidente Juan Manuel Santos de cativar as massas levou à derrota prevista para o seu Partido Social da Unidade Nacional. Embora o cumprimento do Acordo de Paz continue sendo dificultado no Congresso, uma ampla coalizão de partidos seguirá a defendê-la. O curso será definido pelo próximo presidente.
Mas, embora a legenda vencedora desta eleição tenha sido o direitista Centro Democrático, promovido por seu fundador, o ex-presidente e senador Álvaro Uribe; e apesar da polarização, orquestrada pela direita, liderada pelo próprio Uribe, e pela esquerda, encabeçada pelo ex-prefeito de Bogotá Gustavo Petro, o fato mais esperançoso de mudança de atitude dos eleitores colombianos é o voto deles aos políticos centristas, longe das elites do poder, longe dos roubos escabrosos do erário público e ao populismo dos perigosos messias tropicais.
Graças aos jovens colombianos que votaram neste 11 de março, milhares pela primeira vez em suas vidas, e que exerceram o seu direito longe das práticas servis da geração de seus país, que acreditavam que uma bolsa de estudos para seus filhos só poderia ser obtida em troca de voto a um cacique regional, a Aliança Verde, por exemplo, dobrou o número de parlamentares. Parlamentares como Angelica Lozano foram escolhidos como os melhores, por três anos consecutivos.
Seu líder, o ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus, uma verdadeira bandeira de decência na Colômbia, obteve o segundo maior número de votos. Políticos da velha guarda e jovens como Mockus são um orgulho. Entre eles, Sergio Fajardo, candidato à presidência pela Coligação Colômbia – outra amostra de que neste país corrupto há políticos para votar, longe dos caudilhos que comprar votos e consciências.
Sim. A este Congresso voltam muitos corruptos. Ainda assim, algo está mudando na Colômbia. Os partidos tradicionais, defensores da maquinaria do poder corruptor por 70 anos, estão sendo substituídos por movimentos que desejam aplicar o que diz a Constituição: tornar a Colômbia uma democracia para todos.
José Ospina-Valencia é jornalista da redação da DW em espanhol.
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