Opinião: Um desastre é sempre uma grande lição
28 de abril de 2015Mais uma vez uma catástrofe natural atingiu os mais pobres entre os pobres. Diariamente chegam imagens terríveis de cidades inteiramente destruídas, mortos e soterrados por toda parte. Também os turistas no Monte Everest foram vítimas do impacto de pedras e avalanches.
Pelo menos agora a maquinaria humanitária internacional foi posta em movimento, e ela é urgentemente necessária, já que os nepaleses estão claramente sobrecarregados.
Tais pensamentos e comentários vêm como num reflexo, quando as tremendas forças da natureza lembram o quanto nós, humanos, por vezes somos pequenos e indefesos. Por isso nos dispomos a ajudar.
Temos organizações e instituições que ajudam no local ou organizam ajuda, em caso de catástrofe. Nós, as pessoas comuns, podemos ao menos contribuir com donativos para reduzir o sofrimento. Algo que também os alemães fazem bastante, pois dispõem dos meios para tal. Esses donativos são tão importantes quanto a ajuda in loco, pois dão respaldo aos profissionais encarregados. Afinal de contas, nem todo o mundo é chefe de esquadra de cães de busca.
É fantástico que haja uma ampla solidariedade, em caso de catástrofes assim. Está claro: alguns vêm logo, outros precisam de mais tempo – o importante é que venham, pois a ajuda é urgentemente necessária.
Atualmente estamos até mesmo acostumados que essa ajuda seja iniciada com um máximo de efeito midiático. Para todos os participantes, é importante estar bem visível a bandeira nacional ou o nome do doador nos contêineres. Por via das dúvidas, os trajes dos voluntários de todo o mundo deixam bem claro de que país e de que organização está vindo o auxílio.
Não há nada de errado com isso: faça o bem e mostre para o mundo. E para os necessitados, afinal de contas, tanto faz de onde vem a ajuda, contanto que venha.
Contudo devemos ser bem cautelosos com a crítica à lentidão das operações de resgate ou à falta de expediente por parte dos responsáveis. Num país como o Nepal, há muito o que criticar: governo incompetente, a inércia da burocracia, a corrupção que prospera, e assim por diante. Mas, neste momento, essa crítica é realmente pertinente? Ela ajuda a alguém?
Talvez devêssemos parar por um momento e olhar nosso próprio rabo. Pois como é que os nossos países altamente desenvolvidos lidam com catástrofes? Ou aquilo que consideramos catástrofes: quando uma tempestade alcança intensidade de furacão; quando, de tantos em tantos anos, os rios transbordam as margens; quando, no inverno, caem mais de três flocos de neve.
Nesses casos, a proverbial ordem alemã logo se desfaz. Aí precisamos de dias até que fiações elétricas sejam consertadas, e árvores, removidas. Então, também aqui, porões e casas se inundam e as pessoas ficam chocadas de que a água escolha seus próprios caminhos. Então se formam engarrafamentos quilométricos, gente congela nos carros, e trens chegam com horas de atraso, se não são cancelados.
Porém tudo isso são insignificâncias, comparado às grandes catástrofes, diante das quais não só os países pobres se veem impotentes. O altamente tecnológico Japão sempre viveu com terremotos, e constrói condizentemente. Graças a essa técnica de engenharia, o violento tremor de quatro anos atrás fez apenas poucas vítimas. Porém o tsunami subsequente arrastou 15 mil seres humanos para a morte. E isso, embora os japoneses já conheçam há séculos os fatais tsunamis e tentem se proteger deles.
Mesmo os Estados Unidos, a última superpotência remanescente, nada puderam fazer contra o furacão Katrina – apesar de ser um país capaz de enviar tripulantes à Lua. O mundo presenciou aterrorizado como Nova Orleans afundou em meio às enchentes.
E pode-se até ver quando uma catástrofe assim está a caminho. Nossa meteorologia anuncia temporais, chuva e neve com grande antecedência. Inundações acontecem todos os anos, e o nível das águas só vai subindo gradativamente. Por outro lado, terremotos devastadores, como o atual no Nepal ou de 2010 no Haiti, destroem sem aviso prévio milhares de existências.
É claro que os habitantes dessas regiões sabem do perigo de terremotos. Mas o que podem fazer? Moradias resistentes aos abalos são muito caras. E, na luta quotidiana pela sobrevivência, essa não é sua preocupação mais urgente.
Mais uma vez, uma catástrofe natural atingiu os mais pobres entre os pobres. Além da carência generalizada, porém, são enormes os danos permanentes para o Nepal. Pois, quando muito é destruído – por exemplo, tesouros culturais de alto valor –, no futuro virão menos turistas. E no entanto, o turismo é a única fonte considerável de divisas para o país.
Consequentemente os numerosos turistas na região da catástrofe recebem agora atenção especial. O que, no entanto, também significa que grande parte dos helicópteros do país, que já são poucos, são mobilizados para resgatar do Himalaia os abastados montanhistas.
Isso é compreensível, pois também eles vivenciaram, em parte, coisas terríveis. Mas é óbvio que esses helicópteros farão falta em todos os outros locais, onde a desgraça é inegavelmente muito maior. Os turistas podem deixar a zona da catástrofe e processar suas vivências nos países natais. Para os nepaleses, porém, esse território devastado é a pátria.
O futuro há de mostrar quanto tempo vai durar a solidariedade internacional com eles, quando a mídia tiver partido para a próxima catástrofe, a próxima guerra ou grande evento sensacional que seja.
Não, devemos guardar para nós mesmos as nossas frases de sabe-tudo e ajudar aqueles em apuros, também no futuro, também quando eles não estiverem mais no foco midiático da atualidade mundial.
O Nepal não precisa de conselhos inteligentes agora, mas sim de cobertores, medicamentos, estações de tratamento de água e muito mais. Podemos ajudar os nepaleses a minorar os flagelos, a reconstruir o país e reduzir as deficiências. E um desastre é sempre uma grande lição.