E, mais uma vez, ela vai a Kreuth. Nesta quarta-feira (20/01), a chefe alemã de governo, Angela Merkel, viaja pela segunda vez ao balneário bávaro. Há duas semanas, ela se apresentou ali (pela primeira vez como chanceler federal) à bancada do partido aliado CSU (União Social Cristã) no Bundestag, câmara baixa do Parlamento em Berlim. Agora, ela vem para o congresso da bancada estadual da CDU na assembleia legislativa da Baviera. Há necessidade de conversa.
A Alemanha está em polvorosa. Parte da imprensa alemã também. Cerca de um milhão de refugiados no país e cada vez mais problemas, que são em parte previsíveis, e em parte desconcertantemente surpreendentes. O país se entrega a uma nova dimensão de rispidez. E ressoa uma alegria frente à catástrofe e ao cenário apocalíptico. Clima de final dos tempos. O importante é: melhor censurar do que ser censurado. Merkel, que abriu as fronteiras (alemãs) para os refugiados por meio de seu "imperativo humanitário", é agora alvo de críticas. A dimensão surpreende, apesar de todo o drama da situação.
Um exemplo. "CSU faz novamente pressão sobre Merkel", titula o jornal Neue Zürcher Zeitung (NZZ). Assim noticiaram outros meios de comunicação na Alemanha. Mas isso é somente uma meia-verdade. A formulação correta seria: "CSU continua a fazer pressão sobre Merkel". Pois, com seu presidente Horst Seehofer, o desejo do pequeno partido aliado bávaro na União CDU/CSU de irritar a chefe da CDU (União Democrata Cristã) nunca se apagou, apesar de um "encontro da paz" no final do ano passado. Angela Merkel sempre permaneceu distante da legenda aliada.
Outro exemplo. "Edmund Stoiber ameaça a chanceler federal", escreve o diário Süddeutsche Zeitung. Isso também é motivo de risos. Pois, por um lado, o político bávaro recebeu, nos últimos anos, muitas vezes somente apreciações humorísticas e distanciadas do jornal liberal de esquerda de Munique. Por outro lado, arrefece atualmente a paixão dos sociais-cristãos por seu infeliz candidato à Chancelaria Federal em 2002. Mas agora ele pode novamente entrar em cena.
Pois todos podem. Todos contra a chanceler federal.
Isso não significa, no entanto, que questionamentos e críticas à política de Merkel não seriam permitidos. Aguçada pelos dramáticos acontecimentos na noite de réveillon em Colônia, a Alemanha está, por assim dizer, diante de um ano político interessante. Mas mesmo antes da virada do ano estava claro que o tradicional galope político partidário representaria a largada na corrida eleitoral. Pois em menos de dois meses serão realizadas eleições em três estados. Esse dia pode vir a significar (algo que as atuas pesquisas dos institutos de opinião não estão anunciando ninguém sabe por que) um acerto de contas interno da CDU com sua presidente.
Pois, antes dessas eleições, não surpreende o fato de não somente os sociais-democratas tentarem mostrar um perfil definido. E o cenário cada vez mais difícil na bancada parlamentar [da CDU] no Bundestag, a crescente desconfiança amorfa? Isso poderia ser visto como um reflexo do clima entre a população. Mas também mostra simplesmente o nervosismo dos críticos. Devido ao estado de espírito do povo. Mas também devido à ausência de um sucessor ou uma sucessora. Seehofer? Schäuble? Von der Leyen? De Maizière? Não.
Nos últimos anos, a CDU exaltou muitas vezes a sua líder, Angela Merkel. A grande mulher, que manteve a União Europeia em curso, que abrandou a crise da Ucrânia, que foi agraciada como "Personalidade do Ano" pelo jornal londrino Times, em 2014, e pela revista americana Times, em 2015. Nesse contexto, negligenciou-se o fato de que a situação política doméstica ficou e fica cada vez mais difícil, de que erros também vêm à tona – dos custos do regaste financeiro da Grécia ao adiamento aparentemente perpétuo de uma lei de imigração.
Este ano não só vai determinar o futuro curso do governo Merkel, mas também marcará a avaliação global sobre suas seguidas gestões. A repetida ida de Merkel a Kreuth, que para uma chefe de governo democrata-cristã não significa nenhum pedido de perdão, evidencia essa situação decisiva. Mas ainda não foi decidido nada. Mesmo que os críticos e as mídias não consigam esperar.