Em reação à opressão crescente de Pequim em Hong Kong, a União Europeia e seus Estados-membros adotaram sua maior ação coordenada para impor punições à China por seu inescrupuloso tratamento da liberdade do território semiautônomo.
As medidas vão de reavaliar os acordos de extradição existentes a ampliar as oportunidades de visto e asilo para cidadãos de Hong Kong, e suspender as exportações de tecnologias de duplo uso que a China poderia empregar para repressão, vigilância ou interceptação de comunicações sob a nova lei de segurança.
À medida que a China expande sua influência autoritária no além-mar, a iniciativa da UE é bem-vinda, e decididamente um passo na direção certa. A comunidade europeia percebe que o país asiático só pode dar conta de seus atos através de ações punitivas, não de mera condenação.
Há anos o mundo tem estado firmemente convencido de que a China poderia ser transformada por meio de laços econômicos e negociação pacífica. No entanto sua expansão autoritária no exterior, nos últimos anos, prova o contrário.
Em vez de estar mais tolerante quanto a valores liberais e aspirações democráticas, Pequim se torna mais hostil à sociedade civil e exerce enorme pressão diplomática sobre outras nações. Usando seu peso econômico e uma campanha de propaganda global, ela tenta silenciar críticos domésticos e estrangeiros. Advogados de direitos humanos, grupos civis, o povo do Tibete, Xinjiang e também Hong Kong sofrem repressão impiedosa.
Comunidades e empresas internacionais são forçadas a se calar sobre questões de direitos humanos, por medo das ameaças chinesas de represália econômica. Tudo isso prova tratar-se de um conflito direto entre tirania e liberdade.
Antes considerada único bastião de liberdade em solo chinês, Hong Kong é o exemplo perfeito da indisposição de Pequim de adotar normas internacionais e valores liberais. Anulando sua própria promessa na Declaração Conjunta Sino-Britânica, registrada na Organização das Nações Unidas, o governo chinês põe fim à liberdade da cidade, desafiando críticos internacionais e impondo uma lei draconiana contra a vontade do povo.
Apenas alguns dias atrás, quatro jovens foram presos por agentes de segurança nacional, acusados de incitar à secessão em discursos online. No dia seguinte, a China encenou a mais vergonhosa purgação política, vetando a participação de candidatos pró-democracia na eleição, sob o pretexto de que se opunham à lei de segurança nacional.
Inegavelmente, a China está executando um atentado orwelliano aos últimos pilares da autonomia no território.
Por isso, o recente reajuste da política da Europa para a China mostra que os europeus passam a buscar uma abordagem mais baseada em princípios, em meio à crescente influência política, militar e econômica de Pequim, assim como a sua ingerência à liberdade.
Em junho, o Parlamento Europeu ergueu uma bandeira vermelha ao aprovar uma moção exigindo a aplicação da Lei Magnitsky – sanções contra indivíduos envolvidos em abusos de direitos humanos ou corrupção em peso – e outras punições contra infratores dos direitos humanos em Hong Kong.
Recentemente, parlamentares de diversos partidos do Japão também criaram uma nova coalizão, a Aliança Parlamentar Japonesa sobre a China, visando instar o governo a reavaliar sua política para com Pequim, e considerar responder à atrocidade chinesa com sanções.
À medida que cada vez mais democracias europeias e asiáticas adotam ações concretas, o mundo vai acordando para a agressão da China. Só através de ações e sanções internacionais as democracias ocidentais terão suficiente poder para opor à superioridade econômica chinesa – que é a carta que o governo costuma jogar –, e fazer o país reconsiderar o custo de seu domínio tirânico.
É hora de o mundo dar adeus à política de apaziguamento do passado e salvaguardar nossos valores adotando uma estratégia global de combate à tirania.
Nathan Law é um ativista pró-democracia da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Em 2016, aos 23 anos, foi eleito para o Conselho Legislativo como o mais jovem parlamentar. Mais tarde, perdeu seu mandato por, segundo o tribunal, não ter se expressado de acordo com a Constituição ao tomar posse.
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