O suicídio de Jaber al-Bakr terá consequências na política, na Justiça, nos órgãos de segurança da Alemanha. Ainda é cedo para atribuições de culpa, mas não há a menor dúvida de que se trata de um escândalo: as irregularidades anteriores já eram numerosas demais.
Recapitulando: de início, o sírio suspeito de terrorismo, oficialmente reconhecido como refugiado, conseguiu escapar, apesar da grande mobilização policial. Uma grande operação de captura parecia ter fracassado. Por fim, dois compatriotas do foragido possibilitaram sua prisão. A Alemanha respirou aliviada: parecia estar afastado o perigo terrorista, classificado como agudo pelo Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV).
E agora, isto: o protagonista do episódio, o presumível construtor de bombas, dá fim à própria vida em Leipzig, praticamente sob as vistas dos funcionários da Justiça. O fato de ele ter conseguido isso – seja da forma que for – causa, antes de tudo, perplexidade. As autoridades deveriam ter considerado a eventualidade de que o mais notório e possivelmente também mais perigoso detento do país consideraria a alternativa de se matar.
Com a morte de Bakr, escapou ao interrogatório a testemunha potencialmente mais importante. Agora permanecerá mera especulação se ele teria dito algo quanto às acusações que lhe eram feitas: de uma forma ou de outra, havia a vaga esperança de que ele iria se pronunciar.
É possível que as autoridades de segurança alemãs tivessem obtido informações sobre cúmplices e as estruturas envolvidas, indícios que poderiam ajudar a impedir novos atentados, eventualmente em fase de planejamento. Admitamos: trata-se apenas de suposições – mas justificáveis.
Especulações dessa ordem à parte, nos meios do terrorismo fundamentalista islâmico, Jaber Al-Bakr tem agora lugar garantido entre os mártires. Segundo uma lógica macabra e cínica, foi um herói que se libertou das garras dos infiéis, praticando o suicídio.
Desse ponto de vista, a morte do sírio de 22 anos é uma espécie de atentado suicida. Normalmente os autores detonam bombas ou cintos explosivos, ou atiram a esmo. Neste caso, felizmente, não houve mortos inocentes. Porém, na sequência das investigações haverá outras vítimas: os responsáveis nos órgãos de segurança, e possivelmente na política, que falharam, e que por isso perderão seus cargos. Qualquer outro procedimento seria inadmissível.