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Opinião: "Sim" para a paz na Colômbia

Tom Koenigs
28 de setembro de 2016

O plebiscito sobre a paz com as Farc é uma questão pessoal dos colombianos. Mas seu resultado terá caráter de exemplo internacional, opina Tom Koenigs, enviado da Alemanha para as negociações de paz na Colômbia.

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Tom Koenigs
Foto: picture-alliance/dpa/Pedersen

Os colombianos estão diante de uma decisão histórica: após 52 anos de guerra com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), 340 mil mortos e 6,5 milhões de deslocados internos, o país tem a possibilidade de dar fim ao conflito armado. O plebiscito marcado para este domingo (02/10) conferirá legitimação e vinculatividade ao resultado das negociações em Havana.

O processo de paz entre Bogotá e Farc é um assunto interno, mas que também tem significado internacional. Os resultados de Havana mostram que muito se aprendeu com as experiências de outros países, inclusive da Alemanha. A paz não representa apenas o fim de uma guerra, mas também um passo em direção à reconciliação, tendo a verdade e a dignidade das vítimas como foco.

O que não se conseguiu na Alemanha nos processos contra os nazistas após a Segunda Guerra Mundial, e tampouco após a Reunificação em 1990, é o ponto de partida da Justiça interina colombiana: a verdade sobre o ocorrido e a aceitação da culpa pelos agressores. Os que se confessem, não serão condenados à prisão, mas sim a penas de reparação de até oito anos.

Portanto olha-se adiante e se coloca uma convivência pacífica e a não reincidência em primeiro plano, em vez da retaliação. Esse procedimento com os principais responsáveis por crimes gravíssimos de todos os lados – rebeldes, militares, paramilitares, políticos e empresários – nada tem a ver com impunidade: trata-se de um caminho novo e ambicioso para a expiação e o restabelecimento da paz nacional.

Muitos se surpreendem que o "sim" aos acordos de paz, unanimemente saudado no exterior, seja tão controvertido na Colômbia. Mas não há como se prescrever aos que tanto sofreram – afinal, são muitos milhões de vítimas – a forma como devem lidar com os crimes cometidos. O plebiscito é uma decisão muito pessoal de cada colombiana e colombiano. O escritor Héctor Abad Faciolince expressou esse aspecto com grande clareza em seus escritos.

Para nós, amigos da Colômbia de todo o mundo, um claro "sim" seria um exemplo importante para a solução de conflitos – grandes e pequenos – através de negociações, diálogo e cooperação, e não pela força armada. A Colômbia, com seus mais de 100 anos de história de solução – ou não solução – de conflitos por meio de violência, poderá assim emitir um sinal de paz para o mundo. Por isso sou a favor do "sim".

Tom Koenigs foi, durante vários anos, consultor para o meio ambiente e tesoureiro municipal de Frankfurt, assim como enviado especial interino da ONU para o Kosovo e, mais tarde, chefe das missões das Nações Unidas no Afeganistão e Guatemala. Desde 2009, o político de 72 anos, do PartidoVerde, é deputado do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão). O Ministério alemão do Exterior o enviou à Colômbia como consultor para as negociações de paz.