Ficou decepcionado quem esperava que os seis principais candidatos à Presidência do Brasil discutissem propostas para o futuro do país no debate de três horas de duração realizado neste domingo (28/08). A discussão foi desconexa, confusa e, sobretudo, estressante, em parte devido ao formato escolhido e à técnica.
A começar pela iluminação num tom azul frio em todo o estúdio, o que deu a impressão de que os candidatos, alinhados lado a lado de maneira estéril, estavam flutuando no espaço sideral – especialmente aqueles usando terno também azul. Um pouco mais de calor e um posicionamento em meio-círculo teriam contribuído para uma atmosfera mais agradável. Da mesma maneira, teria sido bom melhorar a qualidade acústica – o som era metálico e havia muitos ruídos de fundo.
O ponto fraco do debate, no entanto, foi que não se discutiram temas em blocos. Pelo contrário, a discussão foi desordenada o tempo todo: passava da política para mulheres pelo direito ao armamento até o agronegócio, à gestão da pandemia e à fome. Nenhum tema foi debatido por mais de alguns minutos; os candidatos apresentaram argumentos decorados e não houve muita espontaneidade. Mas quando teve, o debate ficou vivo.
Essa estrutura se mostrou cansativa também porque os candidatos argumentaram partindo de posicionamentos completamente diversos. De um lado, os políticos alfa Lula e Bolsonaro, que sabem que vão decidir o pleito entre si. Do outro, os adversários: Ciro Gomes e Simone Tebet, para os quais está claro que não têm chance, mas que participam do processo mesmo assim – Ciro, porque já é tradição para ele ficar em terceiro lugar nas eleições presidenciais; e Tebet, para se posicionar para tarefas futuras. E também houve os candidatos que transitam debaixo do radar, Soraya Thronicke e Felipe d'Avila, que queriam principalmente lembrar que existem.
Se, mesmo assim, algo dessa longa noite fica na memória, são as sete constatações seguintes.
Vamos começar com Lula. Seu programa para o futuro parece se chamar "Em frente, rumo ao passado!". Toda vez que ele teve a chance de falar sobre seus planos de governo a partir de 2023, falou de sua posse em 2003. Nem de longe Lula esteve tão seguro como durante sua entrevista ao Jornal Nacional na semana passada. Parecia cansado, e a presença de espírito e a eloquência só apareciam quando era provocado – por exemplo, ao lembrar Soraya Thronicke de que ela também tem jardineiro, motorista e empregada (Thronicke não rebateu). Ou quando prometeu a Bolsonaro: "Em um decreto só eu vou apagar todos os seus sigilos". Lula é um gigante, mas durante o debate, ficou longamente adormecido.
Segunda constatação: Bolsonaro não tem muito mais a oferecer do que Deus, família, pátria e liberdade. E grosserias, é claro, comentadas por todos em seguida. Dessa vez, o alvo foi a jornalista Vera Magalhães. Como sempre, os adversários de Bolsonaro ficaram indignados, mas seus apoiadores o consideram genuíno e autêntico.
Bolsonaro se vangloria de ter aumentado os auxílios federais para os pobres. Fato curioso, principalmente porque ele queria eliminar qualquer programa assistencialista. O presidente parecia irritado, insatisfeito. Mas seus eleitores também votariam num toco de madeira se fosse escrito Bolsonaro nele.
Terceira: Ciro Gomes se diverte. Não tem nada a perder, então aproveita. Como sempre, falou das dívidas dos brasileiros, que ele quer eliminar, além de protagonizar uma escaramuça com seu inimigo preferido, Lula, por causa de sua viagem a Paris após o primeiro turno das eleições de 2018. Ciro se mostrou forte quando apontou que foi justamente o PT que fortaleceu o setor privado na área da educação. Ciro é inteligente, autoconfiante e arrogante. Pena que ele não tem mais influência sobre a política brasileira. Ela a tornaria mais divertida.
Quarta: Simone Tebet foi a vencedora da noite, mas não da eleição. Pareceu segura de si, coerente, eloquente e bateu muito melhor em Bolsonaro do que Lula. Mostrou-se especialmente forte quando tratou de reivindicar direitos das mulheres. Apresentou-se como a nova mãe da nação (a primeira foi a presidenta Dilma) – e, se continuar assim, vai fazer concorrência a Ciro pela terceira posição na disputa.
Quinta: o melhor momento de Soraya Thronicke foi quando ela defendeu Vera Magalhães de Bolsonaro: "Quando homens são tchutchucas com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão." Soraya deixou uma pulga atrás da orelha quando fez a seguinte promessa: "Podem ter certeza que, do jeito que está, eu vou começar a entregar muita coisa aqui." Agora todos os brasileiros estão curiosos sobre o que Soraya poderia entregar. Thronicke foi uma grata surpresa por ter trazido, junto com Tebet, e as jornalistas que fizeram perguntas, uma certa seriedade e sobriedade ao debate.
Sexta: Felipe d'Avila é o típico candidato monotemático. Quer eliminar impostos e também o Estado por completo para que o setor privado determine nossas vidas. Infelizmente, ninguém perguntou a ele por que, então, ele quer se tornar chefe de Estado.
Sétima constatação: praticamente não se falou de rachadinha e de orçamento secreto, não se falou de racismo, de negros ou indígenas. Talvez porque houve zero pessoas negras e indígenas presentes no debate.
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Philipp Lichterbeck é correspondente e colunista da DW Brasil. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.