O que aconteceu na audiência número 313 do processo contra a célula terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), no Tribunal Superior Regional de Munique? A principal ré disse à corte quatro, cinco frases, em voz baixa e rapidamente.
É uma surpresa, mas não uma sensação. Sensação seria se Beate Zschäpe tivesse contribuído para esclarecer a inqualificável série de assassinatos racistas de seu grupo radical de direita. Mas esse não foi o caso, pois ela meramente repetiu em poucas palavras o que, em dezembro de 2015, seu advogado já lera em nome dela.
Na época, foi realmente uma sensação, pois, após dois anos e meio de processo, a cúmplice dos presumíveis assassinos da NSU Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos quebrava o silêncio.
O teor da mensagem era o mesmo de agora: ela já foi de extrema direita, porém hoje não é mais; rechaça a violência.; nada tem a ver com os homicídios; lamenta a própria má conduta.
A sumária declaração se concluiu com uma referência a seus próprios posicionamentos anteriores. Alguns foram feitos este ano, quando, através de seu defensor, Zschäpe respondeu às perguntas por escrito do juiz-presidente.
Há apenas um motivo cogitável para essa inesperada intervenção verbal pessoal, em estágio tão avançado do processo: Beate Zschäpe tem esperanças que se considerem circunstâncias atenuantes no veredicto, previsto para o próximo ano.
Para tal, entretanto, ela precisaria ter fornecido mais e mais cedo. Em vez disso, por longo tempo fez exatamente o contrário, alegadamente seguindo os conselhos de três experientes defensores públicos, com os quais se desentendeu no decorrer da ação jurídica.
O fato de os juristas que assumiram sua defesa mais tarde perseguirem uma estratégia diferente deverá ser antes danoso do que útil para Zschäpe. Pois ela subitamente acusa seus dois amigos mortos de haverem cometido os homicídios – ela própria só teria sido informada a posteriori, ficando então horrorizada.
Esse depoimento encharcado de autocompaíxão não combina, em absoluto, com a atitude anterior, fria e segura de si, da principal acusada no processo da NSU. Até mesmo aos apelos encarecidos de familiares das vítimas, para que finalmente quebrasse seu silêncio, ela se mostrou refratária.
No fim das contas, tanto faz por que Beate Zschäpe mostrou um sopro de sentimento humano nessa 313ª audiência. Tampouco faz diferença se agiu a conselho de seus novos advogados. Para isso é tarde demais; em breve a apresentação de provas deverá estar concluída. Também por isso o comportamento de Zschäpe parece ter motivação exclusivamente tática. Ajudá-la, ele não vai.