1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Quanto tempo vai durar o amor de Trump pela Otan?

13 de abril de 2017

Presidente dos EUA continua dando guinadas cada vez mais extremas na política externa, confundindo aliados e inimigos. Portanto é melhor a Aliança Atlântica não se alegrar cedo demais, opina o jornalista Bernd Riegert.

https://p.dw.com/p/2bD66
Riegert Bernd é jornalista da DW
Riegert Bernd é jornalista da DW

Até mesmo o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, ficou surpreso. O convidado em Washington não esperava um comprometimento tão firme por parte do presidente Donald Trump, que retirou a própria afirmativa de que a aliança militar ocidental seria supérflua, declarando sua parceria como indispensável para a segurança comum.

Essa súbita mudança de curso, que os parceiros europeus da Otan só podem saudar, não foi nem um pouco desagradável para Trump. Afinal, agora a Rússia representa uma ameaça para ele, e contra ela a Aliança Atlântica ajuda – contra o terrorismo, também. E na história das contas por pagar, acaba-se dando um jeito. Tão fácil assim é fazer política à moda Trump.

No quartel-general da organização, em Bruxelas, respira-se aliviado de que, ao que tudo indica, o presidente americano tenha acatado o curso de seu secretário da Defesa, James Mattis. Logo em sua primeira visita à capital belga, pouco depois de ser empossado, o general reformado já classificara a Otan como indispensável aos interesses americanos na Europa, Afeganistão ou Iraque. O mesmo dissera, duas semanas atrás, em Bruxelas, o secretário de Estado Rex Tillerson.

Será que a razão venceu sobre o inflacionado ego do atual presidente dos Estados Unidos? O confronto com a realidade e a constatação de que a superpotência não tem como dar conta de tudo sozinha parecem mostrar esse efeito.

Na coletiva de imprensa com Stoltenberg, Trump também mencionou, de passagem, que ação independente na verdade não significa ação independente, mas sim cooperação com muitas outras nações. Com isso, o escorregadio presidente se referia a seu anúncio recente de que cuidaria sozinho de pôr a Coreia do Norte na linha, caso seu novo camarada chinês Xi Jinping não colaborasse.

Também no que se refere a essas palavras inflamadas endereçadas a Pyongyang, os secretários Mattis e Tillerson tentam trazer seu chefe de volta ao chão. Nos últimos dias, ambos afirmaram que o porta-aviões americano acompanhado de submarinos e abastecedores no rumo da Península Coreana se encontrava antes por acaso na região. Isso, enquanto Trump ainda fabulava, numa entrevista, sobre a armada que pretendia enviar à Coreia do Norte.

O presidente americano não deu uma volta de 180 graus apenas em sua atitude para com a Otan, mas também em relação à Rússia e à China – comparado ao posicionamento do candidato presidencial Trump. Por seu apoio ao dirigente sírio, Bashar al-Assad, o presidente russo, Vladimir Putin, não é mais um parceiro tão interessante. Quanto ao homem forte da China, Xi Jinping, Trump afirma ter desenvolvido uma "ligação de verdade" depois de dois dias num hotel de golfe.

Aos chineses – que, segundo ele, estão "estuprando" a América – Trump de repente oferece bons acordos comerciais, se eles se distanciarem da Coreia do Norte. Nada restou do antigo anúncio de que denunciaria a China como manipuladora monetária e a excluiria do comércio mundial.

Para espanto geral, os EUA se veem novamente como polícia global, pronta a, segundo o secretário de Estado Tillerson, proteger inocentes por todo o planeta. Algo que não combina em absoluto com o slogan trumpista "America first".

Em termos de resultado, as três guinadas de Trump não são tão más assim no momento. Só que a questão é: por quanto tempo o aprendiz em eterno aprendizado da Casa Branca vai manter seus pontos de vista? Não será possível que semana que vem ele vá ter uma nova ideia que os secretários de Defesa e de Estado não consigam domar tão facilmente assim?

No quartel-general da Otan, e não só lá, se indaga: como reagirão Trump ou sua equipe se houver provocações da Coreia do Norte? Se convier uma aproximação ou um deal com a Rússia, o bilionário poderá pôr rapidamente de lado seu novo amor pela Otan, ou até mesmo suspender o apoio americano a Kiev. Tillerson insinuou algo assim no encontro do G7 em Lucca, ao perguntar abertamente a seus homólogos: por que os EUA deveriam proteger a Ucrânia?

Estabilidade, confiabilidade e fidelidade de princípios são conceitos que atualmente não vigoram na política externa americana. E para o presidente Trump, não são mesmo o que importa: para ele, o que conta é seu próprio papel, a sua magnificência.

Essa postura está expressa nas seguintes frases, ditas na coletiva de imprensa: "O mundo é uma grande confusão. Ele é ruim. Quando tivermos acabado aqui, ele vai ser muito melhor." Trump, o redentor. Mais alguma pergunta?

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.