O presidente russo, Vladimir Putin, está ficando sem tempo. Será que ele conseguirá declarar algum tipo de vitória até 9 de maio, data que marca a vitória da Rússia sobre os nazistas em 1945? Afinal, os ucranianos resistem ferozmente à agressão de Moscou, defendendo suas casas e famílias.
A Rússia, por outro lado, não está demonstrando tal determinação. O mundo tem visto repetidamente que as forças russas estão sofrendo com moral baixo e que seus soldados – alguns com apenas 18 ou 19 anos – não querem lutar nesta guerra.
Eles não estão encontrando um regime fascista na Ucrânia ou uma minoria de língua russa esperando para ser libertada. Os russos estão sendo recebidos com feroz resistência, não com flores. Na verdade, os ucranianos desfrutam de maior liberdade em casa do que os russos comuns em seu país, onde reina o medo, onde os meios de comunicação mentem e onde as autoridades reprimem todo tipo de dissidência.
Vivendo uma mentira
O exército da Rússia falhou com Putin. Seus propagandistas precisarão sonhar algum tipo de conquista vitoriosa a tempo do desfile de 9 de maio, e então disseminar essa mentira na televisão controlada pelo Estado. Isso, infelizmente, não é novidade na Rússia. Afinal, é o país de Grigory Potemkin.
A cada dia de guerra, mais sombria é a situação do território e maior é o número de soldados mortos. Ao mesmo tempo, restaurantes, cafés e bares de Moscou estão cheios de clientes bebendo vodca e dançando. A vida continua.
E aí está de novo: a esquizofrenia coletiva que é padrão para o "homo sovieticus". Ele vive e sobrevive de mentiras, com medo do serviço secreto, com vergonha de sua própria covardia.
Muitos russos continuam a desviar os olhos hoje, tentando suprimir qualquer conhecimento de crimes cometidos em seu nome. Um dia, quando o massacre de irmãos e irmãs ucranianos não puder mais ser negado, eles alegarão que não sabiam, que não eram responsáveis, e tentarão se safar de tudo, assim como fizeram após o colapso da União Soviética em 1991.
As "conquistas" de Putin
Putin deve isolar ainda mais seu país e escalar o conflito, para sua própria sobrevivência política. Quão grande deve ser seu desespero, se ele agora recorre a ameaças de usar armas nucleares? As armas convencionais aparentemente não produziram os resultados esperados.
As ações dele também estão levando o Ocidente à independência das importações de energia russa em poucos meses, algo que nunca teria ocorrido de outra forma.
A conduta de Putin convenceu a maioria dos alemães – um povo que geralmente prefere a harmonia – a aprovar uma postura dura contra o agressor. Eles estão dispostos a fazer sacrifícios para garantir que a Ucrânia mantenha a vantagem. Parlamentares alemães relutantes em enviar armas pesadas à Ucrânia estão sob pressão. Esquerdistas do Partido Social-Democrata (PSD) e do Partido Verde deram o aval de bilhões de euros em gastos com defesa para fortalecer as próprias forças armadas alemãs.
Otan revigorada
Em poucos meses, a geralmente sonolenta Alemanha mudou de uma maneira que não ocorria há décadas. Está explorando seus talentos tradicionais: proeza organizacional, diligência e disposição para fazer sacrifícios. Outros países europeus reagiram de forma semelhante. A Finlândia e a Suécia estão considerando ingressar na Otan. E o Japão pacifista decidiu aumentar suas capacidades de defesa à luz da agressão russa. Tudo isso graças a Putin.
Ele revigorou a Otan, a qual alguns membros haviam dito sofrer de "morte cerebral". Os Estados Unidos prometeram mais de 30 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia a se defender. A União Europeia segue o exemplo. Graças a Putin, os livros de encomendas dos fabricantes de armas estão tão cheios quanto durante a Guerra Fria.
Ninguém está falando em uma vitória rápida contra a Rússia – pelo contrário. A Otan espera que esse confronto se arraste por muitos anos. Não se deve permitir nunca que Moscou seja tão forte novamente, capaz de travar guerra contra outras nações.
A Rússia deve ser obrigada a pagar pela reconstrução ucraniana no pós-guerra, deve ser obrigada a retirar as suas tropas da Geórgia e da Moldávia e a deixar Belarus. Durante a década de 1980, o Ocidente economicamente superior usou a corrida armamentista para levar a Rússia à falência. A história está se repetindo. Contudo, a Rússia de hoje é mais fraca do que era a União Soviética. E o Ocidente está maior, mais unido e mais poderoso do que nunca.
Sem dissidência
Como se chegou a isso? Ninguém na Rússia se atreve a contradizer Putin. Até o ditador soviético Stalin era mais esperto. O Politburo o temia, mas alguns de seus membros o avisavam quando ele estava errado.
Stalin era mais pé no chão do que Putin, preferindo dormir em uma simples cama de campo. Putin, por outro lado, desfruta de uma vida luxuosa em palácios e superiates. Stalin foi cuidadoso, enquanto Putin é um jogador. Ele não entende o mundo moderno. Dizem que ele não usa internet sozinho, nem sabe enviar e-mails.
A conduta dele mais se assemelha à do czar russo Ivan 4º, também conhecido como Ivan, o Terrível, durante a Guerra da Livônia no século 16. A Rússia perdeu essa guerra, lutando contra várias potências menores, e descendeu para o que viria a ser conhecido como o politicamente tumultuado "Smutnoye Vremya", ou Tempo de Dificuldades.
Então quanto tempo durará a guerra da Rússia na Ucrânia? Enquanto os ucranianos estiverem dispostos a defender sua pátria. E quanto ao apoio do Ocidente a Kiev, está apenas começando.
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Miodrag Soric é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.