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Política não tem que se intrometer na medicina

27 de agosto de 2020

Foi indigna a pressão do presidente dos EUA a respeito de medicamentos e terapias contra o coronavírus. Só cabe aos especialistas decidir se uma vacina chegará ao mercado antes ou depois da eleição, opina Fabian Schmidt.

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Mulher de óculos espelhados e máscara sanitária escrita "Trump"
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Minchillo

Num tuíte, no sábado (22/08), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou a agência FDA, que regulamenta o uso de medicamentos em seu país, de fazer parte de um "Estado profundo" e de atrasar intencionalmente o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 até depois das eleições presidenciais de 3 de novembro.

O diretor do Instituto Nacional de Alergias e Enfermidades Infecciosas (Niaid), Anthony Fauci, se sentiu obrigado a reagir. À agência de notícias Reuters, deixou claro que não considera boa ideia apressar o desenvolvimento de uma vacina, e menos ainda precipitar sua aprovação.

E Fauci tem razão. A coisa toda é um espetáculo indigno, em meio à arruaça da campanha eleitoral, e pouco útil no que diz respeito ao combate ao coronavírus. Não existe o menor motivo para a Casa Branca fazer pressão sobre as instituições altamente profissionais ou sobre o setor, que já exibem resultados muito bons.

Duas vacinas já estão na fase 3 dos testes clínicos nos EUA. Uma da firma Moderna está sendo ministrada há um mês a 30 mil pacientes. E agora a empresa farmacêutica Johnson & Johnson recuperou a dianteira, iniciando um outro estudo com 60 mil participantes. Desse modo, o medicamento de prevenção da covid-19 está cada vez mais próximo.

Se ele chegará ao mercado antes ou depois das eleições, não cabe aos políticos decidirem, mas sim, exclusivamente, aos peritos competentes. As pesquisas precisam ser concluídas com a meticulosidade e cuidado exigidos. Não é admissível assediar as agências reguladoras num momento como este. Tal comportamento é simplesmente indecente.

O mesmo se aplica à concessão de uma licença emergencial para a terapia de plasma no tratamento de pacientes de covid-19, cuja autorização Trump forçou, pouco antes da convenção partidária para indicação do candidato presidencial republicano.

Também esse ato administrativo foi desnecessário. Todo o alarde não ajudará aos realmente afetados, pois já havia a possibilidade de, excepcionalmente, ministrar plasma sanguíneo convalescente, em casos especialmente graves de covid-19 – embora ainda não haja estudos que confirmem inequivocamente a eficácia da terapia.

Repetidamente, Trump se intromete na pesquisa médica e na saúde pública com iniciativas e recomendações questionáveis, como em relação ao ineficaz medicamento hidroxicloroquina. É de se temer que, com a proximidade do dia das eleições presidenciais, aumentará a frequência de tais conselhos, advertências e intromissões.

Mas pode-se também esperar que as autoridades americanas se mostrem mais resistentes contra tentativas de influência política do que, por exemplo, as agências reguladoras da Rússia. Seu presidente, Vladimir Putin, não podia esperar a liberação de uma vacina, e as três fases de testes prescritas foram simplesmente reduzidas a uma. O mundo da medicina ficou horrorizado.

Não há basicamente nada contra a pesquisa científica acelerada, se for boa e ditada por motivos ligados à saúde humana. Porém quem toma a decisão continuam sendo os médicos e farmacologistas pesquisadores, e as autoridades competentes, não a política.

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Fabian Schmidt
Fabian Schmidt Jornalista especializado em Ciência, com foco em tecnologia e invenções.