Petróleo barato pode trazer 2015 turbulento
4 de janeiro de 2015Onde quer que o petróleo seja consumido, há semanas que a alegria é grande. Encher o tanque de gasolina está significativamente mais barato que há um ano. Os especialistas do setor de petróleo avaliam que só os motoristas alemães economizaram cinco bilhões de euros em comparação a 2013.
O dinheiro é gasto, então, em outras coisas o que, por sua vez, fortalece a demanda interna. Isto tem um efeito positivo sobre a economia. E os exportadores da Alemanha também têm motivos para comemorar. Devido à acentuada queda do euro, eles podem vender mais barato seus produtos. Isso tudo leva a que cada vez mais pesquisadores econômicos corrijam para cima suas previsões de crescimento para o novo ano. Será que a Alemanha – e, com ela, a zona euro – está diante de um bom ano de 2015, economicamente falando?
Dificilmente, se o preço do petróleo continuar tão baixo. Já agora, os mercados globais estão extremamente nervosos. Os altos e bairros violentos dos mercados de ações nas últimas semanas é uma indicação disso. Se os preços caírem ainda mais, a zona euro pode cair numa armadilha deflacionária perigosa. Ao esperarem que os preços caiam ainda mais, as pessoas adiam grandes compras e as empresas adiam seus planos de investimento. Esta diminuição da procura leva a uma nova queda dos preços. No final, pode ocorrer um longo período de estagnação. O Japão, que é a terceira maior economia do mundo, é um exemplo disso.
Uma outra fonte de perigo são os países produtores de petróleo. Estes são ameaçados por turbulências consideráveis, como, por exemplo, Venezuela e Rússia, nações dependentes dessas receitas mais do que outros países. Quanto à Rússia, o misto de sanções e queda do preço do petróleo já provoca consequências violentas. A moeda do país está no fundo do poço, a fuga de capitais está a todo vapor, e os investidores perderam a confiança na economia russa.
Quem ainda acredita que a falência do império de Putin ocorrerá sem deixar rastros no Ocidente, está enganado. A situação lembra a última grande crise nos países emergentes da década de 90. Na época, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial ajudaram os russos com muitos bilhões de dólares. Isso seria politicamente improvável de acontecer no momento, especialmente porque os bilhões de então escorreram para canais obscuros.
Se, então, a Rússia se tornar insolvente, os profetas da economia deverão reescrever todas as suas belas previsões. Exatamente como nos EUA, também um país produtor e, desde a era do fracking (fraturamento hidráulico), um produtor muito importante e até, por assim dizer, um dos culpados pelo excesso de oferta nos mercados do petróleo e, consequentemente, pela queda nos preços.
Mas, mesmo ali, se esconde um perigo real. A indústria de fracking emitiu muitos empréstimos a juros elevados para financiar sua tecnologia cara. Mas há um limite a partir do qual o fracking já não vale mais a pena. Se as empresas entrarem em falência e não puderem mais pagar suas dívidas, isso pode levar a uma crise financeira similar à provocada pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.
Já é de se admirar quando o ministro saudita do Petróleo, pela primeira vez, admite abertamente que há preocupação com seu próprio poder de mercado. Ele afirmou que o preço do petróleo irá cair o que tiver que cair, que os outros serão duramente atingidos, enquanto os árabes ainda não sentirão nada. Uma retórica de guerra.
E mais uma coisa: por melhor que um preço baixo do petróleo seja no momento, não é um bom sinal quando, de repente, aumenta assustadoramente a procura pelo modelo Hummer da GM, considerado o beberrão entre os automóveis. Isso nos faz esquecer que o petróleo é um recurso finito. Faz com que percamos o foco na busca de sistemas modernos de locomoção e novas formas de fornecimento de energia.
Resta esperar que o preço do petróleo se estabilize novamente no ano novo e abandone seus níveis absurdamente baixos. Caso isso não aconteça – e no momento não parece que isso não acontecerá –, as conturbadas últimas semanas de 2014 só foram o prenúncio de um turbulento 2015.