1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Petróleo barato pode trazer 2015 turbulento

Henrik Böhme (md)4 de janeiro de 2015

Se os níveis atuais forem mantidos, crise não afetará só produtores como a Rússia, mas também os EUA, além de levar a zona do euro a uma perigosa armadilha deflacionária, opina Henrik Böhme, da redação de economia da DW.

https://p.dw.com/p/1EEsi
Henrik Böhme, da redação de economia da DWFoto: DW

Onde quer que o petróleo seja consumido, há semanas que a alegria é grande. Encher o tanque de gasolina está significativamente mais barato que há um ano. Os especialistas do setor de petróleo avaliam que só os motoristas alemães economizaram cinco bilhões de euros em comparação a 2013.

O dinheiro é gasto, então, em outras coisas o que, por sua vez, fortalece a demanda interna. Isto tem um efeito positivo sobre a economia. E os exportadores da Alemanha também têm motivos para comemorar. Devido à acentuada queda do euro, eles podem vender mais barato seus produtos. Isso tudo leva a que cada vez mais pesquisadores econômicos corrijam para cima suas previsões de crescimento para o novo ano. Será que a Alemanha – e, com ela, a zona euro – está diante de um bom ano de 2015, economicamente falando?

Dificilmente, se o preço do petróleo continuar tão baixo. Já agora, os mercados globais estão extremamente nervosos. Os altos e bairros violentos dos mercados de ações nas últimas semanas é uma indicação disso. Se os preços caírem ainda mais, a zona euro pode cair numa armadilha deflacionária perigosa. Ao esperarem que os preços caiam ainda mais, as pessoas adiam grandes compras e as empresas adiam seus planos de investimento. Esta diminuição da procura leva a uma nova queda dos preços. No final, pode ocorrer um longo período de estagnação. O Japão, que é a terceira maior economia do mundo, é um exemplo disso.

Uma outra fonte de perigo são os países produtores de petróleo. Estes são ameaçados por turbulências consideráveis, como, por exemplo, Venezuela e Rússia, nações dependentes dessas receitas mais do que outros países. Quanto à Rússia, o misto de sanções e queda do preço do petróleo já provoca consequências violentas. A moeda do país está no fundo do poço, a fuga de capitais está a todo vapor, e os investidores perderam a confiança na economia russa.

Quem ainda acredita que a falência do império de Putin ocorrerá sem deixar rastros no Ocidente, está enganado. A situação lembra a última grande crise nos países emergentes da década de 90. Na época, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial ajudaram os russos com muitos bilhões de dólares. Isso seria politicamente improvável de acontecer no momento, especialmente porque os bilhões de então escorreram para canais obscuros.

Se, então, a Rússia se tornar insolvente, os profetas da economia deverão reescrever todas as suas belas previsões. Exatamente como nos EUA, também um país produtor e, desde a era do fracking (fraturamento hidráulico), um produtor muito importante e até, por assim dizer, um dos culpados pelo excesso de oferta nos mercados do petróleo e, consequentemente, pela queda nos preços.

Mas, mesmo ali, se esconde um perigo real. A indústria de fracking emitiu muitos empréstimos a juros elevados para financiar sua tecnologia cara. Mas há um limite a partir do qual o fracking já não vale mais a pena. Se as empresas entrarem em falência e não puderem mais pagar suas dívidas, isso pode levar a uma crise financeira similar à provocada pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.

Já é de se admirar quando o ministro saudita do Petróleo, pela primeira vez, admite abertamente que há preocupação com seu próprio poder de mercado. Ele afirmou que o preço do petróleo irá cair o que tiver que cair, que os outros serão duramente atingidos, enquanto os árabes ainda não sentirão nada. Uma retórica de guerra.

E mais uma coisa: por melhor que um preço baixo do petróleo seja no momento, não é um bom sinal quando, de repente, aumenta assustadoramente a procura pelo modelo Hummer da GM, considerado o beberrão entre os automóveis. Isso nos faz esquecer que o petróleo é um recurso finito. Faz com que percamos o foco na busca de sistemas modernos de locomoção e novas formas de fornecimento de energia.

Resta esperar que o preço do petróleo se estabilize novamente no ano novo e abandone seus níveis absurdamente baixos. Caso isso não aconteça – e no momento não parece que isso não acontecerá –, as conturbadas últimas semanas de 2014 só foram o prenúncio de um turbulento 2015.