A França reelegeu Emmanuel Macron como presidente, mas a disputa foi mais acirrada do que cinco anos atrás, quando os mesmos dois candidatos – a outra era rival de extrema direita Marine Le Pen – foram para o segundo turno.
Macron terá agora que mudar suas políticas e seus rumos, senão um dia a extrema direita francesa poderá chegar ao Palácio do Eliseu.
Quando subiu ao palco no domingo à noite, o presidente pareceu não só feliz e aliviado, mas também humilde. "Sei que muitos de meus compatriotas votaram em mim não porque apoiam minhas ideias, mas porque querem impedir a extrema direita de chegar ao poder", disse. "Essa votação coloca uma responsabilidade sobre mim."
Muitos votaram em Macron apesar de seu programa
Os eleitores escolheram Macron apesar de suas reformas voltadas para o mercado, às quais muitos na França se opõem, tais como a liberalização do mercado de trabalho e a reforma da empresa pública ferroviária SNCF.
Ele foi reeleito apesar de não ter conseguido responder com rapidez suficiente à ira profundamente enraizada dos chamados coletes amarelos, e de não encontrar uma maneira de aplacar suas apreensões. Esses manifestantes bloquearam ruas e rotatórias da França durante meses, exigindo mais justiça social.
Macron foi reeleito apesar de cancelar um plano de 48 bilhões de euros que havia comissionado para melhorar a vida dos que vivem nos subúrbios desamparados da França, e também apesar de não melhorar a inclusão dos cidadãos franceses de ascendência imigrante.
Os eleitores lhe deram uma segunda chance, embora ele não tenha feito mais para combater o aquecimento global – a despeito de sua promessa de 2017 de "tornar nosso planeta grande novamente", feita quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que seu país deixaria o Acordo de Paris de 2015. Desde então, vários tribunais na França condenaram o governo francês por não enfrentar adequadamente as mudanças climáticas e não alcançar suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa.
Frente republicana começou a desmoronar
Mas Macron pagou um preço por todas essas políticas. A chamada frente republicana da França – partidos democráticos e eleitores unidos para impedir a extrema direita de chegar ao poder – começou a desmoronar.
Num ato antirracismo entre os dois turnos da eleição, manifestantes protestaram contra o fato de mais uma vez Le Pen chegar ao segundo turno. Eles também se mostraram consternados por mais uma vez ter que votar num candidato que não lhes agrada.
"Marine Le Pen está ameaçando nosso Estado de direito, mas isso não significa que vou dar meu voto a Macron, ele só implementa políticas de direita", disse um manifestante de 20 e poucos anos, explicando que os franceses já tinham votado em Macron a contragosto em 2017. Ele acrescentou que o atual presidente não fez nada pelos jovens – Macron reduziu, por exemplo, os subsídios à moradia.
Muitos dos manifestantes eram partidários de Jean-Luc Mélenchon, o candidato de esquerda que obteve 22% dos votos no primeiro turno, votos de que Macron precisava desesperadamente para ganhar no segundo turno.
Uma alternativa aceitável
Macron conseguiu convencer eleitores de Mélenchon suficientes para mantê-lo no poder – ou melhor, para manter Le Pen longe do poder.
Porém muitos apoiaram Macron a contragosto, vendo-o como um gestor arrogante e desconectado de suas preocupações diárias. Alguns, portanto, até optaram por se abster ou votar em Le Pen, sendo sua prioridade impedir que Macron permanecesse no poder.
Está longe de certo que, diante do mesmo cenário, daqui a cinco anos os apoiadores de Mélenchon que votaram em Macron voltem a agir assim.
É por isso que o presidente reeleito precisa urgentemente começar a implementar mais medidas de esquerda e ecológicas. Macron precisa mudar seus rumos e mostrar que entende o sofrimento de quem se sente deixado para trás, a fim de dar aos eleitores de esquerda a sensação de que ele é uma alternativa aceitável.
O presidente indicou em seu discurso que faria tudo isso. Agora precisa colocá-lo em prática.
Se não o fizer, isso poderia levar ou pelo menos contribuir para uma extrema direita ainda mais forte. O fator decisivo na próxima eleição presidencial francesa poderia então ser "qualquer um diferente de Macron" ao invés de "qualquer um, menos Le Pen".
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Lisa Louis é correspondente da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.