Para a China, Donald Trump talvez tenha sido eleito presidente americano cerca de uma década antes do tempo. Pois os Estados Unidos ainda não são economicamente e politicamente tão fracos assim para que Pequim possa encarar de forma relaxada a queda de braço comercial.
Embora, é preciso dizer, relaxamento definitivamente não está entre os pontos fortes da liderança chinesa. Ela sempre conta, durante disputas econômicas como a de agora, a história de que a China é, na verdade, o maior país em desenvolvimento do mundo. A quem, por isso, tudo deve ser perdoado – independentemente de toda deslealdade com que as competições comerciais parecem ocorrer ao redor do mundo.
Mas se nos próximos meses ou mesmo anos a coisa realmente piorar para a China, o modelo chinês de ascensão – primeiro economicamente, depois, politica e militarmente – pode sofrer sérios danos.
Pois o presidente americano diz não só que não está mais disposto a jogar o jogo chinês, segundo o qual o tapete vermelho deve ser lançado para os produtos e investidores chineses no exterior, enquanto o mercado chinês permanece em determinadas áreas fortemente fechado aos estrangeiros. Trump também age – em sua maneira característica, bruta. Uma nova rodada na guerra alfandegária entre EUA e China acaba de ser lançada.
Na China, há críticas sobre o modo como o chefe do Estado e do partido, Xi Jinping, que posa cada vez mais como governante absoluto, lida com a crise. Não há solução à vista, pelo menos para quem observa de fora. Nesta questão, o que está em jogo não é apenas a questão econômica, mas também o prestígio, a "honra".
Uma solução para a disputa comercial, no entanto, não é de interesse apenas dos chineses e dos americanos. A Europa, especialmente a Alemanha, também está interessada num comércio mundial livre, ordenado e justo. Não é preciso que se goste de Donald Trump e de seus métodos.
Mas se, através dessa disputa, fosse obtida uma integração duradoura da China ao sistema, o confronto teria produzido algo no final. Se não, muitas pessoas em muitos países sofrerão as consequências por um longo tempo. Há muito em jogo. A esperança é que os diretamente envolvidos politicamente estejam suficientemente conscientes disso.
Peter Sturm é jornalista do diário alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung".
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