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Opinião: O mito Grexit

Georg Matthes
21 de fevereiro de 2017

Ao se aproximar mais um prazo do pacote de resgate econômico para a Grécia, volta ao cartaz um clássico das crises na UE. Como ameaça de tragédia, porém, "Grexit" mais parece uma farsa, opina o jornalista Georg Matthes.

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Georg Matthes é jornalista da DW

Abre-se a cortina para a tragédia grega: depois de Brexit, Trump e o tratado de livre-comércio Ceta, em verdadeiro clássico volta aos palcos europeus. Caso se tratasse de um musical, o resgate econômico da Grécia roubaria o show do Rei Leão, Cats  ou Starlight Express.

A receita de sucesso da trama permanece a mesma: mais uma vez um prazo de pagamento se aproxima perigosamente, mais uma vez Atenas está atrasada e mais uma vez estão num impasse as negociações sobre as reformas mais do que urgentes. Está pronto o trailer para o Grexit.

O momento é propício para Alexis Tsipras. Para o primeiro-ministro grego, manchetes sobre uma possível saída de seu país da União Europeia são sempre bem-vindas. Contudo os sete anos de montanha-russa transcorridos ensinaram: sim, a coisa vai ficar apertada. Mas, não, o resgate da Grécia não está seriamente em risco.

Em primeiro lugar, como constatou mais uma vez em Bruxelas o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, os gregos sempre precisam de "um pouquinho mais de tempo", para no fim acabar entrando na linha. Em segundo lugar, ninguém acredita a sério que, depois dos dolorosos cortes de salários e aposentadorias, o governo Tsipras vá pedir arrego agora, na reta final, às vésperas de ser depositada a próxima parcela do pacote de resgate.

O mesmo vale, aliás, para os europeus. Desde 2010 eles, o FMI e credores particulares já disponibilizaram mais de 300 bilhões de euros para salvar a Grécia da falência. E agora tudo vai cair por terra, só porque Atenas começou a alongar as negociações, por exemplo, em torno de uma liberalização do mercado de trabalho?

Não, isso certamente não acontecerá, ainda mais porque em outros palcos estão se apresentando os adeptos do Brexit e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para eles, mais dissensão dentro da União Europeia seria sopa no mel.

Holanda, França e Alemanha têm eleições neste ano, e só isso já é motivo para cortar pela raiz qualquer debate sobre um Grexit. A discussão sobre um corte de dívidas para Atenas seria lenha na fogueira dos adversários do euro e da UE.

Portanto não é surpresa que o ministro alemão das Finanças tenha permanecido otimista nesta terça-feira (21/02). Em breve, a delegação de Bruxelas retomará seu trabalho em Atenas, afirmou– e ele tem razão. Mais forte ainda, porém, era sua certeza de que no futuro o Fundo Monetário Internacional voltará a entrar no barco Grécia.

Caso se constate que Schäuble também está com a razão neste caso, contudo, isso significaria o fim da disputa entre os credores sobre um corte de dívida para Atenas. O encontro na quarta-feira entre a chefe do FMI, Christine Lagarde, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, seria a oportunidade perfeita para tal.

Se chegue um acordo nesse sentido for alcançado, então estaria suspensa a temporada do evergreen  "Grécia", pelo menos em 2017. Mas cuidado: afinal de contas, na Broadway o musical Cats  chegou a ficar 18 anos em cartaz.