Só aos poucos vai se revelando a dimensão da grande enchente no oeste alemão: dezenas de mortos, numerosos desaparecidos; as massas d'água devastaram localidades inteiras, arrastando consigo árvores, automóveis e casas.
Sempre houve catástrofes naturais desse tipo, mesmo antes da era industrial, propelida à base de combustíveis fósseis. Mas, à medida que o ser humano vai duplicando o volume de dióxido de carbono na atmosfera, já tendo aquecido o planeta em 1 ºC, aumentam o número e a proporção dos desastres.
A coincidência dos eventos neste verão do Hemisfério Norte forma um quadro alarmante da crise climática global: enquanto vastas áreas da Alemanha estão debaixo d'água, a América do Norte se transformou, em parte, num forno, com mortes por calor, temperaturas-recorde e incêndios florestais que a água sequer consegue apagar, pois se evapora antes.
Proteção do clima – e contra ele
Pelo menos, neste julho de 2021 pouco a pouco se começa a falar de mitigação, a contenção das piores consequências da mudança climática. A Comissão Europeia acaba de apresentar o pacote Fit for 55, prevendo medidas concretas para a redução de emissões nocivas ao clima, como a proibição de novos motores de combustão em toda a União Europeia a partir de 2035.
O candidato conservador cristão à chefia do governo alemão, Armin Laschet, logo se manifestou contra "a política definir uma data". A jovem ativista sueca do clima Greta Thunberg rebateu no Twitter: "Então é oficial: a menos que a UE rasgue o seu pacote #Fitfor55¸ o mundo não ter a menor chance de permanecer abaixo de 1,5 ºC de aquecimento global."
Com meus 32 anos, até mesmo em termos de geração estou mais próximo de Thunberg do que de Laschet. Dá-me medo pensar que as enchentes e ondas de calor deste verão sejam apenas um gostinho prévio do estado de coisas que viverei quando tiver a idade que o político democrata-cristão tem hoje – e mais ainda diante do que gerações futuras vão enfrentar.
Para que estas tenham uma chance de sobrevivência, a já mencionada mitigação climática é um ponto decisivo, porém praticamente tão importante quanto ela é a adaptação às condições de vida numa Terra superaquecida.
Medidas de adaptação climática já existem
Neste verão, a Alemanha teve que suportar, até o momento, uma semana de calor excessivo. E logo o Departamento Federal de Estatísticas registrou 11% mais óbitos. Mal dá para imaginar o que seria do país se as temperaturas subissem a 46, 47 ou 49 ºC, como há pouco na localidade canadense de Lytton. Esta se situa um pouco ao norte do paralelo 50 N, ou seja: bem na latitude de pitorescas cidades alemãs como Boppard ou Coburg.
Portanto está mais do que na hora de adotarmos medidas também nesse segundo aspecto. Contra o calor extremo, praticamente não existem medidas de adaptação, mas conceitos urbanísticos podem, ao menos, contribuir um pouco a combatê-lo: corredores de ar fresco, permitindo uma troca de ar; gramados que ajudem a baixar a temperatura, em vez de concreto e asfalto que armazenam ainda mais calor.
Também existem recursos comprovados contra inundações e aguaceiros que vão além de canalizações mais eficientes e válvulas para prevenção de escoamento inverso. De fato, ao longo de diversos rios da Alemanha há muito tempo existem diques, barragens e reservatórios. Em alguns pontos há também várzeas, funcionando como zonas-tampão que podem ser inundadas sem problemas.
No futuro deverá ser preciso construir esse tipo de áreas de prevenção de enchentes também nas cidades. Em Roterdã, Holanda, por exempo, uma praça contém, intencionalmente, três grandes tanques. Quando o tempo está bom, pode-se sentar nos degraus ou andar de skate pelas tubulações; se chove, os reservatórios enchem-se sucessivamente.
Também Miami Beach, Estados Unidos, está implementando uma adaptação climática radical: toda a cidade insular vai sendo gradualmente elevada e provida de um potente sistema subterrâneo de canalizações, bacias e bombas de drenagem, para não ser totalmente submersa apesar da elevação do nível do mar e dos furacões cada vez mais violentos.
Existem vários projetos como esses, os quais – mesmo não sendo capazes de evitar todos os danos causados pelas presentes e futuras intempéries extremas – podem ao menos reduzir um pouco seu impacto. Na luta contra a crise climática, o mais importante continua sendo, de fato, dar rapidamente fim às emissões de CO2. Mas também precisamos considerar com maior consequência como nos protegermos melhor de seus efeitos devastadores.
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David Ehl é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.