Opinião: Minha cidade está de luto
25 de março de 2015Não faz muitos dias, eu dei uma olhada no site do Joseph König Gymnasium. Fui olhar a foto do corpo docente, pois estava curioso para saber quem leciona no meu antigo colégio. Eu concluí o curso médio lá em 1996. Várias caras jovens e esperançosas sorriam na foto, a maioria, desconhecidas para mim. E agora duas dessas pessoas estão mortas.
Também conheço o prédio cinzento com as feias persianas amarelas que apareceu nos noticiários de TV. Foi nele que eu me dei mal em muitos exames de matemática, tentei inutilmente acertar um chute nas aulas de educação física e, numa peça de teatro, morri no palco, como Deus. Agora tudo está cheio de velas e flores.
Haltern am See está de luto. Minha mãe me conta ao telefone que a primeira coisa que fez, ao escutar a notícia da tragédia com o voo da Germanwings, foi rememorar quais dos conhecidos dela têm filhos no colégio, quais famílias foram atingidas. A cidadezinha tem 37 mil habitantes, as pessoas se conhecem, nem sempre se gostam. Mas, nesse momento, todos pensam nas vítimas e em suas famílias, com apreensão e compaixão.
Na terça-feira falou-se muito pelas calçadas, telefonou-se para os conhecidos, fizeram-se perguntas. Todos querem saber quem são as vítimas. Não por voyeurismo, mas por consternação. Também nos próximos dias, as conversas não vão calar. Muitos vão abrir o jornal local e olhar os necrológios, cheios de receio. Todo o mundo quer expressar seu pesar aos familiares.
Há 15 anos não moro mais em Haltern, só vou lá de vez em quando para visitar os meus pais. Eu fiquei feliz quando pude deixar o Joseph König Gymnasium. Mas, de repente, é de novo a minha escola, a minha cidade.
Comovidos, nós, de Haltern, vemos o nosso prefeito tentando manter a compostura diante das câmeras. Nós os conhecemos como um líder municipal jovial e seguro de si. Agora ele tem os olhos marejados e exprime o que todos na cidade sentem. O ex-jogador da seleção alemã de futebol Christoph Metzelder transmite suas condolências via Twitter. Também ele fez cursou o ensino secundário no Joseph König.
Haltern quer ajudar. Uma grande amiga minha é especializada em acompanhar pessoas que estão em luto. Ela quer cuidar dos familiares, vai lhes oferecer sua ajuda. Nisso ela não está sozinha. Haltern não é um mar de rosas: por trás das simpáticas casas de família, há coisas ruins. Mas: muitos se ajudam aqui, no corpo de bombeiros voluntários, nos clubes, nas igrejas. Tomara que os entes queridos das vítimas sintam que não estão sozinhos.