Diante do agravamento da tragédia dos refugiados vindos de todas as partes, a cada dia o clamor vai se tornando mais alto: "Angela Merkel precisa quebrar seu silêncio!" Nas redes sociais chovem acusações contra a chanceler federal alemã. O assunto ocupa o topo da lista no Twitter, plataforma frequentada por muitos jornalistas. Políticos de todas as alas – com exceção dos conservadores – acusam a chefe do governo da Alemanha de inação.
No fundo, os críticos têm razão. E, no entanto, precisam tomar cuidado para não ultrapassar o alvo, com suas exigências muitas vezes baratas. Pois não há quem disponha de uma fórmula segura para tratar o tema êxodo e refugiados – seja no nível nacional ou no internacional.
Precisa-se de uma estratégia confiável que seja sustentada, de boa vontade, por todas as forças políticas e pela tantas vezes evocada sociedade civil. Para tal é, de fato, urgentemente necessário um chamado, lançado pelos mais altos escalões.
No nível governamental, ele só pode partir de Merkel, a chanceler federal eleita pelo Parlamento, cuja palavra tem mais peso do que todas as demais. De acordo com a Lei Fundamental Alemã, é ela quem determina as diretrizes da política. Na questão dos refugiados, contudo, a premiê precisa sobretudo indicar a direção. Não basta se manifestar usando lugares comuns.
É mais do que óbvio que não existe justificativa para a violência contra os requerentes de asilo, a qual "não é digna do nosso país". Saindo da boca de Merkel, tal declaração é pouco demais.
No interesse dos seres humanos em apuros que vêm até a Alemanha e aqui encontram apoio surpreendentemente amplo, é preciso que Merkel finalmente se posicione à frente desse movimento. Há numerosas possibilidades de emitir um sinal forte.
Seria bom se houvesse uma declaração de governo no Parlamento, com o apoio de todas as bancadas. No entanto, devido ao recesso parlamentar de verão, tal alternativa está descartada – pelo menos no curto prazo. E, no que se refere aos refugiados, é necessário presteza máxima. Então só resta a Merkel dar um primeiro passo, de forma francamente pessoal e explícita.
Outra possibilidade seria uma declaração conjunta com o presidente Joachim Gauck. A política mais influente e o representante máximo da Alemanha poderiam emitir um sinal impossível de ignorar, com base na autoridade de seus cargos e a sua popularidade. Tal sinal também despertaria atenção e ressonância internacional.
É lícito e necessário passar a mensagem de que a Alemanha espera de seus parceiros europeus uma maior disposição de acolher os refugiados. Está claro que há muito tempo os outros países sabem disso, pois é o que escutam constantemente dos ministros alemães. Mas seria ainda melhor se o país todo emitisse esse apelo voltado para dentro e para fora – tendo à frente Merkel como porta-voz.