A liberdade de imprensa é um tema perfeito para declarações da boca para fora. Políticos democráticos da Europa, por exemplo, se atropelam na tentativa de cortejar a China. O fato de a liberdade de imprensa não existir nesse país e de as ofertas da Deutsche Welle e de outras emissoras internacionais serem totalmente bloqueadas merece pouco mais do que uma nota de pé de página.
Também os representantes do setor econômico pensam, quando o assunto é China, mais em bons negócios do que em direitos humanos. Desse modo, entregam-se à arbitrariedade e sede de poder de Pequim. Pois ninguém vai protestar no país quando investidores são tutelados. Na mídia chinesa não se vão encontrar críticas a respeito.
Um número espantosamente alto de políticos alemães e de outros países europeus apela para que se compreenda corretamente o presidente russo, Vladimir Putin, para que finalmente se levem a sério seus temores perante a Otan e a União Europeia. Os medos dos jornalistas na Rússia, em contrapartida, só atrapalham e são ignorados: seu medo de intimidação, de lesões corporais e até mesmo de assassinato. Ainda bem que o novo ministro alemão do Interior, Heiko Maas, tem uma posição diferente.
Também o Irã bloqueia as ofertas da DW e de outras emissoras internacionais e intimida sistematicamente seus colaboradores. Praticamente ninguém fala mais dos 23 jornalistas aprisionados nos cárceres de tortura das Guarda Revolucionária. E, no entanto, há políticos que sonham com uma aproximação – com um regime que quer aniquilar Israel, desestabilizar o Oriente Médio inteiro e exporta terrorismo.
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é louvado por deixar as mulheres dirigirem automóveis e por inaugurar cinemas. Ao mesmo tempo, porém, o blogueiro Raif Badawi continua confinado numa prisão saudita só por ter praticado o direito fundamental à liberdade de opinião.
Autocratas africanos exigem – e obtêm – mais ajuda humanitária, mas silenciam e sufocam os jornalistas jovens e dinâmicos que tentam praticar seu ofício de maneira honesta, sobretudo nas emissoras privadas.
Em Bangladesh e no Paquistão, blogueiros arriscam a própria vida ao noticiar sobre o crescente fundamentalismo islâmico em seu país. Apesar dos esforços de diversos diplomatas, apoio do exterior é, antes, artigo raro.
Em 2018 o México é país-parceiro da Feira de Hannover. No entanto em nenhuma outra nação o jornalismo é tão perigoso como lá, pois o governo não consegue controlar os cartéis do narcotráfico. Em 2017 foram mortos no México 11 jornalistas – só na Síria o balanço é mais trágico. Seria o caso de os Estados ocidentais assumirem a própria responsabilidade, uma vez que a maioria dos consumidores vive neles.
A lista poderia se estender indefinidamente. Logo chegaria também a vez da Turquia, parceira da Otan, e dos membros da União Europeia Polônia e Hungria.
É uma triste lista. Ela exige mais do que declarações da boca para fora em datas comemorativas.
Deveríamos julgar nossos governos e nossos políticos também por aquilo que fazem efetivamente para protestar contra os escandalosos atentados à liberdade de imprensa.
Eles mostram aos ditadores, de forma clara e inequívoca, quais são os nossos valores? Estão prontos a renunciar a negócios, quando esses valores são violados de forma gritante? Eles subordinam a disposição de conceder ajuda para o desenvolvimento à situação dos direitos humanos e da liberdade de imprensa nos países receptores?
Por todo o mundo, a democracia está ameaçada por ditadores, autocratas e populistas. Ela só sobreviverá se os democratas batalharem em prol dela com determinação.
Em 2018, a Deutsche Welle faz aniversário: há 65 anos informamos gente do mundo inteiro, de forma livre e independente. Vamos continuar nos empenhando pela liberdade de imprensa. Vamos mostrar as coisas como elas são. Esse é o nosso compromisso.
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