Como foi tocante o momento em que Kamala Harris fez o juramento de posse nos degraus do Capitólio em 20 de janeiro de 2021. O evento principal pode ter sido a posse de Joe Biden como presidente, mas outro velho homem branco assumindo o poder não é nada de novo. E quando Kamala Harris colocou sua mão sobre a Bíblia e jurou, com um sorriso orgulhoso, defender a Constituição dos Estados Unidos, ela se tornou a primeira mulher, a primeira mulher negra e a primeira vice-presidente asiático-americana dos Estados Unidos. A história estava sendo feita diante de nossos olhos.
Doze meses mais tarde, a desilusão se instalou. Em uma pesquisa nacional do site de notícias Real Clear Politics, 42% dos americanos disseram que o presidente Biden está fazendo um bom trabalho, enquanto Harris ficou com apenas 40%. No final de novembro, ela causou furor na mídia social quando visitou um mercado de Natal, com um sorriso triunfante para os smartphones. Mas, no aspecto político, ela teve um primeiro ano de mandato decepcionante.
Harris não atende às expectativas
Para ser justa, o cargo de vice-presidente é ingrato. Poucas pessoas estão tão próximas do poder (se o chefe de governo morresse, o vice-presidente se tornaria automaticamente presidente) e, ao mesmo tempo, têm tão pouco dele.
Nelson Rockefeller, vice-presidente de Gerald Ford entre 1974 e 1977, disse certa vez sentir-se como se estivesse de prontidão para funerais e terremotos. Benjamin Franklin sugeriu chamar os detentores do cargo de "sua supérflua excelência". Nos EUA, o vice-presidente não chefia ministério e, no que diz respeito a decisões importantes, o chefe tem sempre a última palavra.
Mas as pessoas esperavam mais de Kamala Harris. Não apenas porque ela rompeu com a tradição, depois de todos os seus predecessores brancos e homens. Antes de entrar na corrida para a indicação presidencial democrata em 2019, ela havia se destacado na Califórnia como uma procuradora-geral assertiva e de fala dura, pressionando, entre outras coisas, por leis mais rígidas sobre armas. Mais tarde, no Senado dos EUA, ela foi uma forte oponente das políticas de imigração restritivas do presidente Donald Trump. Muitos ficaram entusiasmados com sua nomeação a vice-presidente.
Mas ela não foi capaz de reforçar seu perfil com estas ou quaisquer outras questões, apesar de ser encarregada de supervisionar a política de imigração na nova administração. O único resultado de sua visita ao México e à Guatemala em junho foi que Washington anunciou que iria emitir mais vistos de trabalho.
O mais notável foi sua mensagem dura às pessoas na Guatemala que tentam escapar da pobreza e seguir para os Estados Unidos:"Não venham!".
Naquele momento, ela deixou de ser reconhecida como a mulher que já teve a reputação de lutadora pelos menos afortunados.
O que ela representa?
Nem todos precisam ter poder para causar um efeito na sociedade, como demonstrou a ex-primeira-dama Michelle Obama. Ela se encarregou de promover estilos de vida saudáveis e combater a obesidade infantil, lançando a iniciativa "Let's Move" e reunindo uma força-tarefa de especialistas de diversos departamentos governamentais que emitiam conselhos e sugestões para pais, escolas, crianças e prestadores de serviços de saúde. Estas foram as questões que o público americano associou com Michelle Obama.
E houve ainda o vice-presidente de Donald Trump, Mike Pence, que era fervorosamente religioso. Sua aversão a homossexuais lhe rendeu elogios entre os republicanos conservadores que tinham reservas sobre o presidente. Por mais retrógrada que tenha sido esta atitude, tanto seus partidários quanto seus oponentes sabiam o que esperar dele.
E qual é a posição de Kamala Harris? Quais são as questões que lhe são mais importantes? Como ela será capaz de representar os milhões de pessoas que tanto esperavam dela quando tomou posse? Tudo isso ainda não está claro. Até agora, a vice-presidente apresentou-se como fraca figura política. E isso não é suficiente para uma mulher cujo próximo passo político poderia ser a chefia da Casa Branca.
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Carla Bleiker é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.