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Opinião: Hora da verdade para Europa

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
4 de fevereiro de 2017

Na cúpula da UE em Malta, ficou claro que nem todos os líderes europeus veem Trump como ameaça. Mas este é um ano decisivo para o Velho Continente e manter-se unido é a sua única chance, opina jornalista Barbara Wesel.

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Barbara Wesel Kommentarbild App *PROVISORISCH*
Barbara Wesel é correspondente da Deutsche Welle em Bruxelas

Na importante cúpula da União Europeia (UE) realizada na ilha de Malta, nesta sexta-feira (03/02), a chefe alemã de governo, Angela Merkel, desempenhou seu papel com sabedoria. Pois, por trás das marcantes palavras sobre a ameaça que o governo de Donald Trump representa para a Europa, esconde-se seguramente certo grau de desacordo. Embora não tenha havido um confronto claro contra uma posição comum, entre alguns europeus orientais, parece fraca a tendência a uma revolta aberta contra a Casa Branca. E a chanceler federal alemã fez tudo para arrefecer a temperatura emocional.

Merkel não comentou nada sobre o presidente americano e sua volatilidade, suas erupções de temperamento e sua falta de conhecimento da política mundial. Ela havia criticado claramente o veto de entrada nos EUA a cidadãos de sete países muçulmanos e deixou por isso mesmo. A Europa deve procurar, com base em seus valores, a cooperação com os EUA onde houver interesses comuns e confiar em si mesmo quanto a outros temas. Esse foi o conselho que a mais experiente entre os chefes de governo presentes deu a seus colegas de pasta. É o típico estilo de Merkel – esperar, observar e somente depois agir. Diante da atual situação de incerteza, isso parece ser, mais uma vez, uma atitude inteligente.

No entanto, talvez a chanceler federal esteja enganada quanto ao grau de insanidade que se vê agora em Washington. Quando a assessora presidencial Kellyanne Conway inventa, simplesmente, um massacre praticado por migrantes que nunca existiu, então se abandona o terreno da responsabilidade política. Algo assim provém, diretamente, do caldeirão de bruxas propagandístico do fascismo no século 20. Isso não tem mais nada a ver com notícias falsas, trata-se simplesmente de mentiras e embustes. Parece ser duvidoso até onde se pode acordar qualquer coisa com esse governo.

A chanceler federal da Alemanha não tem, provavelmente, nenhuma ilusão sobre o perigo da situação. Mas ela não pode forçar os outros países europeus a mais coesão. Também por isso ela mencionou, no final, a possibilidade de que se poderia chegar a uma Europa de diferentes velocidades. Após as eleições na Holanda, na França, talvez na Itália e, finalmente, na Alemanha, será tomada uma decisão na União Europeia.

Deseja-se um futuro comum ou deixa-se convencer por Trump e pelos extremistas de direita europeus de que o desmantelamento da UE e o ressurgimento do nacionalismo seria uma boa ideia – isso vai ser decidido em 2017. Talvez reste um punhado de países que queira dar prosseguimento ao bloco. Talvez não se consiga nem mesmo isso. Seria então o fim da Europa, dividida em 28 países pequenos e médios, cujas oportunidades globais seriam miseráveis. O destino deles vai parar então, opcionalmente, nas mãos da China, Rússia e EUA, exatamente da forma como o presidente do Conselho da UE, Donald Tusk, descreveu na carta enviada aos chefes de governo.

Atualmente, os apelos em prol da coesão são o menor denominador comum. Talvez seja preciso que aconteçam ainda mais coisas nos EUA, para que se esclareça a alguns governos europeus a gravidade da situação. Quando países como a Polônia ou a Itália acreditam que poderiam tirar alguma vantagem da situação, eles se enganam completamente. Como europeus, vamos sobreviver ou padecer juntos politicamente. E ainda não se sabe para onde esse caminho vai levar.