O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Golias das mídias sociais, foi derrubado – embora não por um pequeno concorrente. Em vez disso, foi por outros gigantes: Twitter, Facebook, Google, Apple e Amazon que não aguentavam mais. Assim eles deixaram claro que decidem quem pode se expressar em suas plataformas e como, ao abater aquele que talvez seja seu mais célebre usuário.
Os 88 milhões de seguidores do ex-presidente americano no Twitter e outros 35 milhões de fãs no Facebook não encontrarão mais as declarações, por vezes racistas e perigosas, de @realDonaldTrump nessas plataformas. O presidente foi excluído.
Donald Trump usava seus perfis virtuais como arma contra os dissidentes. Discurso de ódio e fake news eram sua marca registrada. As consequências de seus tuítes puderam ser vistas durante a invasão do Capitólio em Washington.
Um caminho muito fácil
Enfim paz, diriam muitos, e eu mesma também suspirei aliviada. Mas apenas muito brevemente. Porque se queremos liberdade de expressão, devemos tolerar a liberdade de expressão. Fico nervosa de saber que um pequeno grupo de pessoas tem o poder de decidir bater portas nas plataformas de comunicação mais influentes do mundo.
Vamos deixar claro: não estamos falando sobre discurso de ódio ou notícias falsas, que devem ser identificados e sinalizados ou excluídos. Essa é a tarefa dos operadores das plataformas, uma tarefa que eles relutantemente admitiram ter começado a realizar nos últimos meses.
Era maio quando o Twitter lançou pela primeira vez uma advertência em dois tuítes do presidente. A partir de então, mais e mais postagens foram acompanhadas de avisos ou mesmo deletadas. Todos agora podiam ver como algumas das declarações de Donald Trump eram perigosas e sem fundamento. Aquilo foi uma coisa boa.
Mas agora encerrar sua conta é muito fácil. Os operadores da plataforma estão fugindo de suas responsabilidades. Mesmo sem Donald Trump, milhões e milhões de notícias falsas, discursos de ódio e propaganda circulam em suas plataformas. Em vista disso, Twitter, Facebook e outros precisam finalmente cumprir sua obrigação social: deletar de forma consistente e, quando necessário, classificar e identificar informações falsas.
Quem decide sobre a liberdade de expressão
Não podemos esquecer também que essas redes sociais são uma ferramenta importante para expressar opiniões, principalmente em países com liberdade de imprensa limitada. No entanto, não é democrático e nem um sinal de pluralidade quando alguns dirigentes de empresas, que, em última instância, devem responder apenas perante seus acionistas, dominem o mercado e usem seu poder de decisão sobre a liberdade de expressão.
É hora de levar a sério esse poder real do Facebook, do Twitter e de mecanismos de busca como o Google e regulá-los de maneira democrática e eficiente. Eles também devem ser responsabilizados.
Primeiros passos na Alemanha
A Alemanha já deu os primeiros passos nessa direção. Em 1º de janeiro de 2018, a chamada "Lei de Execução da Rede" (Netzwerkdurchsetzungsgesetz) entrou em vigor. De acordo com ela, as redes sociais são obrigadas a combater agitação e notícias falsas.
A lei foi bem recebida pela Comissão Europeia. Desde então, Facebook e outras redes sociais na Alemanha tiveram que empregar centenas de "moderadores de conteúdo" para monitorar as postagens e, caso necessário, excluí-las.
Em vista da abundância de posts, certamente se trata apenas de um começo, mas pelo menos é um começo.
Simplesmente desligar da tomada, como foi feito com as contas de Donald Trump, definitivamente não é o caminho correto. Isso simplesmente permite que os Golias da tecnologia se esquivem de suas responsabilidades.
--
Manuela Kasper-Claridge é editora-chefe da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, e não necessariamente da DW.