É possível falar tão mal do estado de uma economia nacional, que ela fica ruim. Por isso, todos evitam empregar a maldita palavra "recessão". Mas também de nada adianta querer negar a verdade. Na indústria alemã, um importante pilar da economia nacional, há muito impera a recessão: um número cada vez maior de firmas pretende reduzir sua produção nos próximos meses, os pessimistas suplantam os otimistas.
Há diversos motivos para tal, e todos os conhecem: principalmente conflitos comerciais; mas também a crise mundial da indústria automobilística; a probabilidade crescente de um Brexit sem acordo; recentemente, o roçar de sabres da China em direção a Hong Kong. Uma mistura explosiva.
Por isso não é nenhuma surpresa a cifra divulgada nesta quarta-feira (14/08) pelo Departamento Federal de Estatísticas: no segundo semestre de 2019 a economia da Alemanha contraiu 0,1% em comparação com o trimestre anterior.
Claro que é válido partir do princípio que a situação não melhorará nada no trimestre em curso. Quando chegar a próxima cifra negativa, a sentença será: a economia alemã está "oficialmente em recessão". Pois, em algum momento, os economistas estabeleceram a fórmula segundo a qual, após dois trimestres negativos seguidos, se fala de uma "recessão técnica".
Como dito: isso é o que vai acontecer. Mas também não é nenhum motivo para entrar em pânico, ou mesmo apelar para acionismo ou programas conjunturais. Por um motivo simples: embora iniciado pelos fatores excepcionais citados acima, esse desaquecimento é totalmente normal, sobretudo após uma fase de aquecimento tão longa como a atravessada pela Alemanha na última década. A conjuntura se compõe de ciclos, os quais são linhas onduladas, e não retas ascendentes da esquerda à direita.
Por que esse desaquecimento é importante? Nos últimos anos, muitas empresas do país ficaram realmente "quentes", muitas vezes até incapazes de cumprir todas as encomendas, com as instalações funcionando a 90% de suas capacidades, ou mais. Além disso, há a falta de mão de obra tão lamentada por todos.
Assim, em tempos de desaceleração, se reduzem as supercapacidades da fase de alta conjuntura, as empresas se preparam para uma carga normal de trabalho. E há novamente oportunidade de reparar ou substituir uma linha de produção. Também a apreensão quanto a grandes ondas de demissões é, pelo menos no momento, ainda absolutamente injustificada.
Claro que soa ameaçador quando grandes conglomerados como Bayer, Basf ou Volkswagen anunciam a intenção de cortar milhares de postos. No entanto, a economia alemã não são as grandes multinacionais, e sim, acima de tudo, os milhares de pequenas e médias empresas. Nunca tantas pessoas na Alemanha tiveram um emprego fixo ao mesmo tempo, com os pesquisadores do mercado de trabalho acusando 1,4 milhão de vagas de trabalho não preenchidas.
Além disso, há a fantástica receita do Kurzarbeitergeld, na qual a Agência Federal do Trabalho assume por um certo período o salário do trabalhador que teve sua carga horária reduzida, evitando demissões e permitindo que as firmas mantenham seus quadros de funcionários. No momento em que as encomendas voltam a se intensificar, as companhias podem retomar imediatamente a atividade.
No momento, a Agência Federal de Trabalho administra 50 mil requerimentos de emprego de curto prazo. Em comparação, em 2009, um ano após a crise financeira global, eram 1,5 milhão de pedidos. Na época a medida foi muito útil, evitando grandes ondas de demissões.
Portanto, a coisa funciona, e por esse motivo parece, até certo ponto, agitação de campanha eleitoral quando o ministro do Trabalho, o social-democrata Hubertus Heil, faz turnê pelo país alardeando novas ideias para o emprego de curto prazo. Realmente necessária seria uma outra coisa: o alívio tributário dos assalariados.
Pois o desempenho econômico negativo teria certamente sido maior sem o importante suporte da "demanda interna" (ou seja: a população tem que consumir!). Agora – quando as más notícias da economia tornam os cidadãos mais cautelosos com seus gastos, ou quando as empresas se retraem em seus investimentos –, talvez o ministro das Finanças tenha que abrir a carteira.
Ninguém está precisando de um "zero absoluto"! Necessários neste momento são incentivos a investimentos e aquisições. A Alemanha continua empurrando com a barriga um gigantesco déficit de investimentos na infraestrutura, e nesse contexto são bem-vindas propostas como as do renomado teórico da economia Michael Hüther.
Ele sugere a criação, ao longo de dez anos, de um "Fundo para a Alemanha" no valor de 450 bilhões de euros, financiados por títulos de dívida pública – que no momento o Banco Central alemão vende em grande quantidade, com credores pagando para obtê-los. Esse dinheiro seria, então, investido nos setores de transportes, internet de banda larga, moradia, educação e – atenção! – proteção do clima.
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