Opinião: Declaração de Valcke sobre a Copa no Catar foi calculada
9 de janeiro de 2014Então ele falou um pouco demais, o senhor secretário-geral da Fifa. Jérôme Valcke mal havia declarado a uma rádio francesa que a Copa de 2022 não será realizada no verão, mas no inverno europeu, e já levou um pito do patrão.
Trata-se de uma opinião pessoal do secretário-geral, divulgou a Fifa, que disse continuar debatendo o assunto e que nenhuma decisão será tomada antes da Copa de 2014 no Brasil.
A declaração oficial da Fifa soa formal, como se um empregador estivesse se afastando das declarações de um estagiário sem noção que andou falando demais.
Só que o francês de 53 anos não é um cartola que começou ontem. Há seis anos e meio ele ocupa a secretaria-geral da Fifa, cargo-chave da entidade, e é, de certa forma, o braço direito do presidente Joseph Blatter.
Antes de entrar para a federação, Valcke foi jornalista e diretor de uma agência de marketing esportivo. Ele sabe muito bem o efeito que as palavras podem causar, o quanto se deve falar e quando é a hora de ficar quieto. Valcke jamais teria ido tão longe se não tivesse certeza do que estava fazendo e do apoio de Blatter. E ele certamente sabia que essa "bola fora" pegaria de surpresa algumas pessoas ligadas à Fifa.
Na verdade, o secretário-geral apenas falou o óbvio. Para qualquer pessoa de bom senso, uma Copa do Mundo no verão escaldante do Catar não faz o menor sentido.
Restam duas alternativas: a Fifa poderia simplesmente reconhecer que a escolha do emirado como sede da Copa de 2022 foi um erro – aliás não só por causa do clima – e reiniciar o processo de escolha. A chance de isso acontecer, porém, é a mesma de nevar forte no Catar. Resta a segunda opção: a Copa de 2022 fica onde está, mas será jogada no inverno. Goste ou não, o mundo do futebol terá de se acostumar com a ideia.