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Opinião: Debate sobre "nafris" é tempestade em copo d'água

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Jens Thurau
2 de janeiro de 2017

Polícia de Colônia fez um bom trabalho neste Ano Novo e já pediu desculpas por ter usado termo "nafris" para se referir a norte-africanos. É hora de se ocupar com temas mais importantes, afirma o jornalista Jens Thurau.

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Jens Thurau
Jens Thurau é jornalista de política da sucursal da DW em Berlim

Primeiro, os fatos: a polícia quis evitar ser acusada de falhar no réveillon deste ano em Colônia. Como foi acusado, e com razão, há um ano, quando assistiu de braços cruzados (e inicialmente nem sequer notou) a centenas de jovens, em sua maioria vindos do norte da África, assediarem sexualmente mulheres e, em alguns casos, também as violentarem.

Por isso, desta vez o entorno da Catedral de Colônia foi transformado numa fortaleza, vigiada por 1.700 policiais. Centenas de homens jovens foram controlados, impedidos de entrar no local, e cerca de cem deles foram presos, incluindo 16 alemães. A polícia soube – através de chats na internet, entre outros meios – que os norte-africanos estavam combinando se encontrar em Colônia, assim como no ano passado. E os policiais impediram novos atos de violência.

E, então, a polícia publicou, antes da meia-noite, um tuíte informando que, nas imediações da estação central de Colônia, centenas de "nafris" estavam sendo revistados. Nafris? A palavra é jargão da polícia de Colônia para denominar infratores potenciais ou reais provenientes do norte da África.

Soa desrespeitoso. E, provavelmente, deve ter sido mesmo o "calor do momento" – como disse um porta-voz policial, se desculpando – que fez com que essa expressão viesse a público. E talvez também se deva à grande tensão dos policiais, cuja clara missão era evitar qualquer sinal de que uma situação como a de um ano atrás viesse a se repetir.

As reações a esse tuíte são tão previsíveis quanto cansativas. Membros do Partido Verde rejeitam o termo como inaceitável e questionam se a polícia teria feito um racial profiling, isto é, uma abordagem levando em conta as características externas dos indivíduos, o que de fato é proibido.

Os conservadores da União Social Cristã (CSU) defendem a polícia. O chefe da polícia local rejeita a acusação de racismo. No Twitter, o "bom-mocismo" verde vira alvo de todo o ódio opinativo da comunidade permanentemente online, que usa um monte de outros nomes para "homens jovens, aparentemente originários do norte da África", todos bem piores do que o relativamente inofensivo "nafris". E o que podemos aprender com isso?

Nem todo jovem originário do norte da África costuma assediar mulheres sexualmente. Mas há um ano, em Colônia, a maioria dos criminosos tinha essa origem. Negar isso é absurdo. Então, a polícia decidiu prestar mais atenção nesse grupo. O que mais ela poderia fazer? A polícia se desculpou pelo tuíte nervoso, o que é correto. No mais, ela fez um bom trabalho. É hora, portanto, de se acalmar um pouco.

Os jornalistas – é o que aparentemente acredita a grande maioria – adoramos conflitos e controvérsias. E nenhuma notícia é insignificante o suficiente para não se tornar mais um escândalo. Aqui vai uma contraproposta: deixemos esse debate sobre "nafris" de lado e nos voltemos para as notícias realmente importantes.