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Cúpula da Apec é vitória para presidente Xi Jinping

Hans Spross (av)12 de novembro de 2014

Colocando fórum à frente da parceria de livre-comércio defendida pelos EUA, líder chinês reafirma seu poder. Mas o clima global sai como perdedor da cúpula, opina Hans Spross, do departamento asiático da DW.

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Até mesmo o céu sobre Pequim obedeceu ao protocolo, durante a conferência de cúpula do fórum Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), realizada entre segunda e terça-feira (10-11/11). Graças a restrições temporárias à indústria e ao tráfego na capital chinesa, o firmamento permaneceu atipicamente azul.

Deutsche Welle Hans Sproß
Hans Spross, do Departamento Ásia da DWFoto: DW

"Azul-Apec" é como observadores da cúpula e moradores pequineses batizaram na internet o novo fenômeno atmosférico. Em terra, nos tapetes vermelhos e diante das câmeras da imprensa, tudo também transcorreu impecavelmente segundo o script chinês.

O presidente Xi Jinping deixou até o último momento em suspense a realização do encontro solicitado por Tóquio, entre ele e o premiê japonês, Shinzo Abe. Ele teve que esperar um momento sozinho, diante das câmeras reunidas no Grande Salão do Povo, até Xi chegar, para um aperto de mão bastante glacial, simbolizando o fim da era do gelo entre os dois países.

Antes, através de medidas para promover confiança, diplomatas de ambos os lados haviam assegurado um fim da escalada no conflito pelas ilhas Diaoyu (nome chinês) ou Senkaku (japonês), no Oceano Pacífico. Ficou também registrado por escrito que os dois países têm "posições divergentes no tocante às tensões" no território marítimo em questão.

Com isso, Pequim abocanhou uma vitória diplomática: o conflito pelo grupo de ilhas, provocado pela China, está agora oficialmente na agenda bilateral, apesar de a posição defendida pelo Japão ser de que não há nada para negociar.

Retirado do caminho o obstáculo das tensões sino-japonesas, sem que nenhuma das partes se sentisse constrangida, o anfitrião Xi pôde se concentrar inteiramente em sua ofensiva por uma Área de Livre-Comércio da Ásia-Pacífico (Alcap).

Nesse campo, o chefe de Estado da China marcou seu segundo ponto diplomático, proclamando, ao fim da conferência da Apec, nada menos do que um "passo histórico em direção a uma zona de livre-comércio na Ásia-Pacífico".

Durante os próximos dois anos se estudará a possível implementação dessa iniciativa chinesa. O consenso sobre um road-map para a Alcap configura um claro sucesso chinês nessa cúpula, ao colocar em segundo plano a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), defendida pelos Estados Unidos. Ainda pouco antes do encontro em Pequim, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciara para breve um avanço significativo nas negociações para fundação da TPP.

As duas iniciativas de livre-comércio concorrentes diferem entre si: enquanto na Alcap está prevista a participação de todos os 21 países da Apec, a Parceria Transpacífica só é composta de 12 Estados, estando excluída a China. Além disso, a TPP deverá ser um verdadeiro bloco de livre-comércio, com a eliminação abrangente de restrições alfandegárias.

A iniciativa chinesa, por sua vez, tem o escopo de criar um campo, o mais propício possível, para futuros acordos bilaterais de livre-comércio – como o que a China fechou com a Coreia do Sul pouco antes da cúpula.

É interessante notar que esse procedimento corresponde precisamente à linha adotada por Pequim nas disputas territoriais no Mar da China Meridional, ou seja: manter as questões no nível bilateral, sempre que possível.

Não há dúvida: Xi Jinping, o mais forte líder chinês desde Deng Xiaoping, tem todo o direito de registrar sua primeira aparição no palco da Apec como uma vitória nacional. Além disso, ele trouxe o foco do fórum criado em 1989 de volta a seu núcleo temático original: o livre-comércio, como meio de multiplicar, para todos, o crescimento e prosperidade globais.

O outro lado da moeda é a mudança climática global. Ao fim de suas conversas, Xi e Obama apresentaram um longamente esperando acerto para a redução dos gases-estufa. Se os dois rivais pacíficos entrassem de fato em sintonia na política climática, o termo "azul-Apec" teria uma conotação totalmente diferente.