Crise financeira
8 de outubro de 2008A crise bancária americana espalhou-se pelo globo e criou pânico não só nos mercados financeiros. Já há provas de que seus sintomas começam a se refletir sobre a economia real, freando a conjuntura, e influindo no crescimento e no mercado de trabalho. A confiança de investidores, empresas e consumidores está profundamente abalada.
Nos Estados Unidos, milhões de casas compradas a crédito estão sendo objeto de leilão judicial. Isto deixa vestígios na disposição ao consumo. Os volumes de negócios das grandes empresas do comércio varejista nos Estados Unidos sofreram uma queda de 5% só em setembro. Mais da metade dos norte-americanos acredita que a economia está em derrocada – estes são os piores resultados de pesquisas dos últimos anos.
Mas a situação vai piorar ainda mais, porque um dos principais problemas da atual crise financeira é a perda de confiança entre os bancos. Ninguém sabe que ovos podres ainda há na contabilidade dos outros. Do mesmo modo, é baixa a disposição para emprestar dinheiro entre si – o que não se reflete apenas nos empréstimos pelos próprios bancos, mas também sobre os empréstimos para a economia real. O dinheiro é o lubrificante da economia. Se ele fica denso ou pára de fluir, o motor da economia pára.
Os primeiros indícios disso já podem ser sentidos. O número de veículos vendidos nos Estados Unidos, por exemplo, sofreu uma drástica redução. Todas as montadoras têm que contar com perdas de dezenas de pontos percentuais em setembro. E a razão para isso não é o fato de não se vender mais tantos carrões que consomem muito combustível. Não. A queda também atinge os econômicos modelos japoneses.
O motivo é outro: Cada empresa se dá o luxo de ter um banco próprio especializado em financiar a compra de veículos novos. Só que também estes bancos têm de se refinanciar nos mercados financeiros – o que fica cada vez mais difícil na atual situação. No momento, as revendedoras de carros estão declarando insolvência em série.
Os bancos tornam-se cada vez mais cuidadosos na concessão de créditos. Eles somente emprestam dinheiro uns aos outros com juros de risco exorbitantes. Isso encarece também os investimentos das empresas. Fica impossível para elas modernizar ou ampliar suas instalações – mesmo que seu setor na realidade nem tenha sido atingido pela crise.
Na realidade, a crise de créditos há muito tempo já atingiu a economia real –- também na Alemanha. A Opel reduz a produção em Bochum e em Eisenach, a Ford pretende fazer o mesmo na unidade de Saarlouis, a BMW reduz a produção em Leipzig e a Mercedes dá mais cedo férias de Natal aos seus funcionários, deixando em aberto a data do reinício da produção em janeiro. Tudo indica que será um longo inverno.
Um consolo, mesmo assim, é o fato de os bancos centrais deste mundo terem reconhecido a tempo a seriedade da situação e – diferentemente, por exemplo, na crise econômica mundial de 1929 – terem bombeado somas bilionárias nos mercados. Eles assumiram o papel que, em tempos normais, é indiscutivelmente dos bancos, ou seja, abastecer a economia com dinheiro.
Na quarta-feira (8/10), numa ação conjunta, seis bancos centrais baixaram as taxas básicas de juros em meio ponto percentual para acalmar os mercados e tornar mais barato o dinheiro de bancos centrais. Foi uma medida necessária e correta, pois no momento simplesmente é preciso prestar primeiros socorros, custe o que custar.
A camada de lubrificante não pode desaparecer, pois caso contrário estraga-se o motor. Procurar os culpados e pensar em regras mais rígidas e controles, isso ainda pode ser feito. Mas, no momento, os primeiros socorros são mais importantes do que qualquer outra coisa. (rw)
Rolf Wenkel trabalha na editoria de Economia da Deutsche Welle.