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Apenas palavras

8 de fevereiro de 2010

As evasivas dominaram o evento realizado na cidade alemã, opina o enviado especial da Deutsche Welle Andreas Noll. Ainda assim, os políticos mostraram que há tipos diferentes de subterfúgios.

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Há mais de 40 anos, a Conferência de Segurança de Munique é um local de palavras especialmente claras. Afinal ela vive de anúncios claros feitos por políticos. Neste ano, os organizadores queriam algo mais: resultados. "Chega de evasivas" era o slogan do evento.

Porém uma coisa é slogan, outra é a prática. Já no dia de abertura, o mundo ouviu do ministro iraniano das Relações Exteriores, Manuchehr Mottaki, principalmente uma coisa: evasivas.

Evasivas sobre por que o Irã não podia interromper o enriquecimento de urânio, apesar de o Conselho de Segurança exigir exatamente isso há muito tempo. Evasivas também sobre o respeito aos direitos humanos no Irã ou sobre as acusações de fraudes eleitorais.

Tudo isso recitado num tom bizarro, presunçoso e provocante.

Mas não apenas o regime autoritário do Irã foi um mestre das fintas e das palavras vazias. A opinião pública escutou evasivas também das democracias ocidentais em Munique.

Evasivas sobre por que a União Europeia, como a potência econômica que é, ainda não assumiu as responsabilidades internacionais que seus parceiros exigem há anos. Ou sobre por que um mundo sem armas nucleares, por mais que desejável, seja impraticável no momento.

Também a Alemanha optou por subterfúgios. O governo alemão sabe exatamente que o Afeganistão necessita de mais soldados para ter ao menos uma chance de alcançar a estabilização. E sabe que o reforço anunciado de 500 soldados é uma colaboração muito fraca. E que são os americanos que agora precisam impor a ordem em áreas de responsabilidade dos alemães.

A justificativa alemã para essa relutância, que no final das contas reduz a influência alemã, foi uma evasiva.

Ainda assim, houve evasivas e evasivas em Munique. Os europeus bem que gostariam de ter mais influência no mundo, mas falta-lhes a vontade política. Nesse caso, a evasiva oculta a impotência.

O governo alemão precisa dessa evasiva porque teme o suicídio político. Mais soldados para o Afeganistão seria exigir demais de seu crítico eleitorado. Uma evasiva como uma mentira branca, por assim dizer.

Já o Irã usou de longe as mais deslavadas evasivas para mais uma vez fazer o mundo de idiota. O fato de o presidente Mahmud Ahmadinejad ter ordenado a produção de urânio altamente enriquecido ainda enquanto os políticos debatiam em Munique torna isso óbvio até mesmo para os russos e chineses, sempre tão compreensivos com o Irã.

É bem provável que no futuro essa conferência venha a ser lembrada como o local onde as últimas esperanças quanto à questão iraniana estouraram como uma bolha de sabão. Isso ao menos seria um resultado – ainda que um bem infeliz.

Autor: Andreas Noll
Revisão: Rodrigo Rimon