O mundo tem esperança e ao mesmo tempo teme ao lado do povo da Ucrânia. E amaldiçoa o governante no Kremlin, Vladimir Putin. É legítimo chamar o presidente russo de criminoso de guerra após seu ataque ao país vizinho, por se tratar de uma violação ao direito internacional. Imagens e relatos de casas e hospitais bombardeados justificam isso.
O que Putin, seus asseclas em Moscou e os líderes de ditaduras como Belarus têm em comum é, acima de tudo, a falta de humanidade. Para eles, a compaixão é uma expressão de fraqueza; eles pisam literalmente sobre cadáveres para oprimir a liberdade e a democracia. Provavelmente o déspota russo realmente pensou que toda a Ucrânia poderia ser subjugada de forma tão rápida e fácil como quando ele anexou a Crimeia em 2014.
Ajuda urgente a todas as frentes militares e civis
O fato de que ele acredita nisso, ou mesmo de estar convencido disso, tem muito a ver com o comportamento dos países ocidentais. Inclusive e especialmente na Alemanha, muitos subestimaram a sede ilimitada de poder de Putin e seu desrespeito ilimitado pela liberdade e autodeterminação. Aqueles que tanto se equivocaram sobre o ex-agente dos serviços secretos russos talvez sejam agora os mais horrorizados. Também por sua própria ingenuidade.
Mas não ajuda a ninguém, muito menos ao povo da Ucrânia, lamentar agora a boa-fé e os erros de ontem. Agora é hora de fornecer ajuda em todas as frentes, tanto militar como civil. O fato de que a Alemanha também está fornecendo armas para repelir a invasão russa é um ponto de ruptura inevitável em vista da megalomania que afeta Putin.
Envio de armas é responsabilidade humanitária
O fato de que esta reviravolta tenha sido desencadeada pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia tem uma dimensão completamente trágica. Ambos os países faziam parte da União Soviética, dissolvida em 1991, que havia sido invadida pela Alemanha de Hitler 50 anos antes, na Segunda Guerra Mundial. Seus soldados lutaram juntos contra o regime nazista e sofreram o maior número de baixas para se libertarem do fascismo.
Isto também deve ser levado em conta quando, em 2022, ao vermos, impotentes e irados, imagens da guerra comandada por Putin contra a Ucrânia. Sim, pode-se rejeitar a entrega de armas alemãs como um possível prolongamento da guerra e, portanto, de um sofrimento incomensurável. Mas também se pode considerá-la como um ato de humanidade, em vista das pessoas que apelam por ajuda e seu impressionante presidente, Volodimir Zelenski.
Alemanha está fazendo muita coisa certa
Esta parece ser também a opinião da maioria dos alemães, que apoiam o fornecimento de armas à Ucrânia. Isto mostra o quanto eles se solidarizam com o sofrimento dos ucranianos. E que podem distinguir entre mísseis antiaéreos para um país que luta por sua sobrevivência na Europa, e barcos de patrulha entregues a um regime antidemocrático como a Arábia Saudita.
O envio de armas alemãs à Ucrânia é o que os políticos podem fazer, ao lado das sanções contra a Rússia. Isso significa muito nas áreas militar e econômica. E é mais do que muitos céticos atribuíam ao governo alemão do chanceler federal social-democrata Olaf Scholz. Uma mudança de paradigma que também está sendo bem recebida fora da Alemanha.
Pode-se confiar na sociedade civil
E aqui, mais uma vez, aparece a sociedade civil alemã. Assim como em 2015, quando centenas de milhares de refugiados de países como Síria, Iraque e Afeganistão foram acolhidos, o mesmo está sendo feito agora para os refugiados da Ucrânia. Somente na capital, Berlim, espera-se nos próximos dias a chegada de 20 mil ucranianos.
Cada vez mais pessoas se apresentam a cada dia para oferecer alojamento privado. Na plataforma "unterkunft-ukraine.de" já foram oferecidas quase 180 mil camas em toda a Alemanha (até 03/03). O site está disponível em quatro idiomas: alemão, inglês, ucraniano e russo. Comboios de ajuda com alimentos, remédios, cobertores e roupas estão partindo de todas as partes do país.
A esperança tem um nome: Europa
A imensa solidariedade com a Ucrânia ficou evidente no domingo no centro de Berlim e na segunda-feira em Colônia, cidade onde o tradicional desfile de Carnaval foi transformado em uma enorme manifestação de paz. Em todos os lugares, centenas de milhares querem ajudar o povo da Ucrânia. E não há sinais de que essa empatia possa diminuir em breve − pelo contrário.
Impressionantes e comoventes são também as imagens dos vizinhos da Ucrânia: sobretudo da Polônia, mas também de Romênia, Hungria e Eslováquia. A Alemanha está no caminho certo com a ajuda que presta. Nestes tempos sombrios, isso é um sinal encorajador para uma Europa livre, democrática e sem fronteiras. Junto com a esperança de que a Ucrânia possa um dia juntar-se a este grupo de nações. Mas isto só pode ser alcançado com o coração aberto e uma cabeça fria.
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Marcel Fürstenau é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.