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Opinião: Brasil vive guerra política por interesses pessoais

30 de março de 2016

A crise política brasileira tomou contornos tão absurdos que ficou mais fácil reduzi-la à queda de Dilma. Com isso, porém, fecha-se os olhos para o complexo jogo político que se desenrola no país, opina Francis França.

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Os desdobramentos da crise política no Brasil são acompanhados com interesse e perplexidade pela opinião pública internacional. A cada fato novo vem a pergunta: é agora que Dilma Rousseff cai? E há semanas as manchetes internacionais se reviram em torno de um vago "pressão sobre o governo aumenta".

O que se passa no Brasil é de fato difícil de entender – a história não se resume a mocinhos e bandidos. De um lado, a presidente Dilma e o ex-presidente Lula juram de pés juntos que são inocentes de todas as acusações. Mas, ao mesmo tempo, se valem de manobras escandalosas para blindar Lula ao nomeá-lo ministro. De outro, a oposição e o Judiciário juram de pés juntos que lutam para combater a corrupção, mas as investigações andam mais rápido para uns do que para outros, e juízes que deveriam ser isentos simpatizam claramente com atos públicos contra o governo – isso quando não participam deles pessoalmente. Sem falar na comissão do impeachment, onde dos 65 membros, 37 são investigados por corrupção.

No mais recente desenvolvimento da crise, o PMDB, maior parceiro de coalizão de Dilma, decidiu deixar o governo. Este fato em si já é uma sensação, pois estamos falando de um partido que ocupa cargos no primeiro escalão desde a redemocratização, em 1985 – mais do que familiarizado, portanto, com a corrupção sistêmica do país.

Sedenta por um desfecho, a opinião pública internacional faz novamente a pergunta: é agora que Dilma Rousseff cai? O impeachment é iminente? Nós brasileiros nos desculpamos por frustrar as expectativas mais uma vez, mas há controvérsias.

Há quem diga que, se o tão acostumado ao poder PMDB consegue abandonar o governo, outros partidos menores podem seguir o exemplo e também deixar a base aliada. Com isso, aumentaria o número de votos para um impeachment de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, com as inúmeras facções dentro do PMDB, sempre houve uma ala do partido que votou contra o governo, independentemente da coalizão. Assim, há quem diga também que, ao deixar cargos no governo, o PMDB abre espaço para partidos que garantam um apoio mais consistente à presidente.

Aliás, a saída do PMDB também não significa que todos os membros do partido vão votar contra Dilma. A fidelidade partidária não costuma ser um valor maior na política brasileira – os 87 parlamentares que mudaram de legenda entre 18 de fevereiro e 19 de março na chamada janela partidária que o digam.

E não podemos esquecer que o PMDB manteve junto ao governo sua figura mais importante: o vice-presidente Michel Temer, o primeiro na linha de sucessão da Presidência, caso Dilma seja removida do cargo.

Com isso, fica evidente que estamos assistindo, na verdade, a uma guerra política por interesses pessoais que nada tem a ver com um projeto de nação. Lamentável para um país como o Brasil, que até poucos anos atrás era aclamado como gigante da economia mundial e exemplo na redução das desigualdades sociais.

Francis França é editora-chefe da DW Brasil.