Algo precisa ser reconhecido sobre o presidente Jair Bolsonaro: ele está trazendo enorme atenção à Floresta Amazônica. Nos últimos anos, ambientalistas podiam apenas sonhar com tal interesse.
Também retoricamente Bolsonaro marca pontos no debate sobre a Amazônia. A recusa à ajuda internacional, sob alegação de que os europeus devem primeiro reflorestar suas próprias florestas, cai bem. Afinal, não é sem motivo que o governo alemão convocou para setembro uma cúpula nacional sobre florestas.
E tem ainda o argumento do colonialismo: quando o presidente do Brasil, ex-colônia portuguesa, faz uso dessa premissa, pode ter certeza da simpatia de seus compatriotas. Não importa se o presidente da França, Emmanuel Macron, possui ou não a "mentalidade colonialista" de que Bolsonaro o acusa: o colonialismo faz parte da história da França.
Mas cuidado: a língua solta do presidente brasileiro não serve para proteger a Amazônia. Pelo contrário: ela justifica a contínua destruição da floresta e, simplesmente, não passa de pura hipocrisia.
Pois Bolsonaro, autoproclamado crítico do colonialismo, exibe ele próprio uma "mentalidade colonialista" desde que assumiu o cargo. Seu modelo remete à época da ditadura militar (1964-1985).
Sob o slogan "A Amazônia é nossa", os generais impulsionaram o desenvolvimento da floresta ainda escassamente povoada e asseguraram as fronteiras externas contra uma suposta invasão estrangeira.
Pequenos agricultores do sul do Brasil, incluindo muitos colonos descendentes de alemães, foram atraídos para a floresta com a promessa de obter terras gratuitamente. Os indígenas brasileiros foram colocados sob a tutela do governo e deveriam ser "assimilados".
É exatamente isso que Bolsonaro quer retomar. O ex-capitão paraquedista é um defensor declarado da ditadura militar. Em sua "mentalidade colonialista", vê os nativos do Brasil como "seres humanos como nós", que devem aprender sobre os benefícios da "civilização" com missionários, empresários, militares e outros grupos poderosos da sociedade.
Na interpretação de Bolsonaro, os indígenas também devem ter permissão para plantar soja, praticar pecuária e garimpar ouro – mesmo em reservas florestais ou áreas demarcadas. Muitos já fazem isso, pois não há restrições legais à escolha de profissão pelos povos indígenas no Brasil.
Mas Bolsonaro quer mais: quer "ajudar" os índios a abrir suas áreas – que são, por lei, federais e inalienáveis – a investidores. Como nos tempos coloniais, a consequência pode ser que os povos indígenas se tornem aqueles que menos se beneficiam da riqueza em sua área.
É sintomático que nenhum dos governadores dos nove estados da Amazônia Legal tenha apoiado a rejeição de Bolsonaro à ajuda internacional. Ao contrário do presidente brasileiro, eles se alegram com cada euro que a comunidade internacional possa investir na floresta tropical.
Em face do enfraquecimento institucional das autoridades ambientais brasileiras, o governador do Amazonas, Wilson Lima, é categórico: "O Fundo Amazônia é essencial. Não podemos ficar sem esses recursos", afirmou ele em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Mantido pela Noruega e a Alemanha, o Fundo Amazônia financia cooperativas de agricultura sustentável, monitoramento de áreas protegidas e projetos de ecoturismo, entre outros. Isso cria empregos que permitem que a população local ganhe seu sustento sem desmatar a floresta.
Criar empregos para os cerca de 20 milhões de habitantes da Amazônia: é exatamente isso que Bolsonaro finge fazer, mas torpedeia diariamente. Aí, não há argumento de colonialismo que ajude: a política de Bolsonaro para a Amazônia é o auge da hipocrisia.
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