O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, foi um dos primeiros a saudarem a "libertação" de Aleppo: lá, o "povo sírio" alcançou um "êxito contra os terroristas", declarou, segundo agências de notícias.
Na verdade trata-se de um descarado autoelogio: a vitória do regime militar de Bashar al-Assad naquela cidade síria não teria sido possível sem o amplo apoio das milícias xiitas iranianas ou financiadas pelo Irã, como o libanês Hisbolá. E menos ainda sem a participação ativa da Rússia, na forma das mais brutais ofensivas aéreas, seja contra os rebeldes armados, seja contra a população civil.
As lutas e bombardeios prosseguiram e prosseguem até o último segundo em Aleppo. Vidas humanas não valem nada para ambos os lados, a questão é aniquilar o inimigo sem se importar com as perdas. Segundo dados da ONU, nos últimos dias houve de novo terríveis massacres. E mesmo depois que os vencedores tiverem tomado o último quarteirão, ainda há que se temer novas atrocidades.
A campanha militar vitoriosa do regime Assad continuará sendo invencível enquanto ele puder contar com seus aliados. Assim que toda Aleppo estiver sob seu controle, é quase certo que o presidente sírio colocará na mira os redutos rebeldes restantes da região de Idlib. Ou seja, a guerra prosseguirá, fazendo ainda muitas vítimas. Afinal, quem ou o que pode deter Assad?
Certamente não o Ocidente ou a assim chamada "comunidade internacional"! As Nações Unidas fracassaram totalmente, como admitiu Ban Ki-moon, secretário-geral da organização em fim de mandato. O mundo assiste totalmente inerte à matança em Aleppo e no resto da Síria.
É verdade que os esforços diplomáticos são intensos, mas eles apenas escondem a mais pura impotência: ninguém vai em ajuda dos civis acuados. E com Donald Trump, o futuro presidente dos Estados Unidos, esse quadro não vai mudar.
Crimes de guerra compensam: essa é a triste mensagem de Aleppo. E a segunda: nada mais acontece na Síria sem a Rússia e o Irã. Pode ser que os governos do Iraque, do Líbano e do Egito simpatizem com essa nova "ordem" regional. Mas a Arábia Saudita e os demais domínios de xeiques no Golfo Pérsico dificilmente a aceitarão e, consequentemente, continuarão a armar seus aliados. E a matança vai continuar.