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A próxima crise de governo na Itália é previsível

5 de setembro de 2019

A estranha coalizão entre populistas e social-democratas enfrentará dificuldades. A economia italiana vai mal, e a direita já começou a atacar. Mas tudo é melhor que Salvini, opina o correspondente Bernd Riegert.

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Cerimônia de posse dos ministros do novo governo italiano
Posse dos novos ministros: "Nova coalizão quase não tem força para impulsionar a economia do país", opina Bernd RiegertFoto: picture-alliance/AP/A. Medichini

A Itália tem um novo governo. O 66º desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Esperança, risco, experimento ou uma nova chance? De tudo um pouco.

Para a União Europeia (UE), brota a esperança de que, com um ministro das Finanças sensato, seja possível evitar um confronto em torno do orçamento italiano e um endividamento excessivo do país. A tagarelice do líder de extrema direita do partido Liga, Matteo Salvini, sobre uma moeda paralela, que equivaleria ao abandono do euro, por enquanto deixou de ser um tema. A Itália conseguiu um pouco de ar para respirar.

O risco de que o novo governo colapse após alguns meses ou, o mais tardar, em um ano é, porém, grande. O populista Movimento Cinco Estrelas (M5S) e os estabelecidos social-democratas são simplesmente muito diferentes, tanto no estilo quando no conteúdo. Eles permaneceram unidos somente por medo do poltergeist ultradireitista Salvini, que, se não tivesse havido uma coalizão, e sim novas eleições, teria triunfado e se tornado primeiro-ministro.

O novo governo de esquerda terá dificuldades, entretanto, de mudar o clima entre os italianos. Salvini é popular, assim como, sua posição linha-dura contra a imigração, contra refugiados e contra "aqueles lá de Bruxelas". O líder da Liga sabe disso e já adotou o tom de campanha eleitoral. Para ele, a coalizão populista-social-democrata do medo é "um desastre" que ele quer derrubar com todos os meios. Infelizmente, os italianos ainda não perceberam que um governo ultradireitista sob a liderança de Salvini seria um desastre ainda maior.

O experimento político só tem uma chance: se populistas e social-democratas entregarem algo tangível em vez de se perderem em discussões sem fim. As promessas de benefícios sociais e investimentos são grandes, mas os cofres estão vazios. O risco de jogar a bola sem querer para o hábil candidato eleitoral Salvini é grande.

O novo governo representa, no entanto, uma chance de abordar novamente na UE a política migratória e de refúgio. É preciso finalmente encontrar um mecanismo de distribuição. Assim, a Itália poderia voltar a abrir, pelo menos, uma brecha em seus portos e enfraquecer a criminalização de equipes de resgate marítimo privadas. Se isso não for possível, o novo governo também adotará um curso linha-dura, pois, nos últimos dois anos, o humor dos eleitores italianos foi polarizado por meio da histeria populista de direita e esquerda rumo à defesa do isolamento e da "Itália em primeiro lugar".

A nova coalizão quase não tem força para conduzir importantes reformas e impulsionar a economia do país. Ela vai deambular como muitos de seus antecessores. Adversidades internas também ameaçam a nova equipe. Os social-democratas, que deram uma reviravolta espantosa nas últimas semanas, estão divididos.

O antigo líder do partido e ex-primeiro-ministro Matteo Renzi quer voltar ao poder. Por enquanto, ele prevaleceu contra o presidente atual da legenda, Nicola Zingaretti, que queria rejeitar o experimento com o M5S. E o clima está acirrado também dentro do Movimento Cinco Estrelas. Muitos italianos frustrados ainda não entenderam a súbita transformação do partido de protesto num parceiro de coalizão estabelecido.

No final, a duração desta coalizão será limitada. Novas eleições no próximo ano são muito prováveis. Sendo assim, o atual governo não deve ser tão ruim. As estáticas mostram que, em média, o mandato de um gabinete na Itália é de apenas um ano e dois meses.

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Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.