Dois meses após as eleições parlamentares, nada anda na Itália. Os dois blocos populistas, o Movimento Cinco Estrelas e os conservadores de direita, bloqueiam-se mutuamente. Os social-democratas, que governaram até agora e encolheram drasticamente, recusam-se a colaborar e permanecem estáticos na oposição. Todas as tentativas de forjar alguma tipo de coalizão entre os antissistema, os radicais de direita e os moderados falharam. O presidente Sergio Mattarella constatou, frustrado, que seus esforços foram em vão, já que as partes não se aproximam e permanecem impassíveis.
O Movimento Cinco Estrelas agora pede novas eleições em junho. Já os radicais de direita preferem que se vote novamente no final do ano. Cada partido tem seu próprio cálculo sobre quando suas chances de ganhar uma maioria no Parlamento podem ser maiores. Mattarella não é a favor de novas eleições. Ele sente a frustração de muitos italianos, que dizem, não sem razão, que a próxima votação provavelmente produziria o mesmo resultado, ou seja, um bloqueio. Além disso, uma nova eleição é vista como desperdício de dinheiro. E dinheiro é coisa que o Estado italiano, endividado de forma irresponsável e elevada, realmente não quer desperdiçar.
Por essa razão, o presidente quer fazer uma tentativa final nesta segunda-feira (07/05) para forçar à mesa de negociações os vaidosos chefes dos dois grupos populistas, assim como dos social-democratas. Ainda se cogita formar uma aliança entre o Movimento Cinco Estrelas e os social-democratas, ou pelo menos partes desse partido em decadência. Outra possibilidade seria uma aliança entre o Movimento Cinco Estrelas e os nacionalistas de direita da Liga. Aí, porém, o ex-primeiro ministro e ainda grande líder dos conservadores, Silvio Berlusconi, teria que ser sacrificado. O empresário, de 81 anos, não está disposto a recuar.
Se a última tentativa falhar, o presidente italiano poderia estabelecer um governo de transição de "tecnocratas", que então aprovaria o orçamento para 2019 e prepararia uma nova eleição para o início do próximo ano. No entanto, também os "tecnocratas" teriam que se submeter a uma moção de confiança de um Parlamento totalmente dividido. Também é possível que o primeiro-ministro em exercício, Paolo Gentiloni, simplesmente continue liderando o governo de forma interina. Sem uma maioria parlamentar, no entanto, vai ser muito difícil aprovar um orçamento.
A Itália só pode se dar o luxo de todo esse circo político porque a economia italiana está indo relativamente bem, num período de leve crescimento, os mercados financeiros se deixam influenciar pouco pelas tramas de coalizão em Roma e as taxas de juros para o refinanciamento da enorme dívida pública são suportavelmente baixas. Para os mercados e para a estabilidade da zona do euro, da qual a Itália é um membro-chave, seria melhor que um governo de transição assumisse o comando. Seria mais estável e confiável do que qualquer coisa que pudesse ser costurada a partir dos populistas, à direita ou à esquerda, na Itália no momento. Se, em algum momento, os populistas eurocéticos assumirem o governo na Itália, o clima relaxado pode rapidamente mudar.
Se os mercados retirarem a confiança de um Luigi Di Maio, do Movimento Cinco Estrelas, ou de um Matteo Salvini, da Liga, o país pode rapidamente entrar em dificuldades financeiras, dívidas não poderiam mais ser refinanciadas e o fundo de resgate do euro teria que intervir. A incerteza é agravada pela perspectiva de que o Banco Central Europeu vai, algum dia, elevar as taxas de juros, o que automaticamente elevaria também o custo dos títulos do governo italiano. As consequências de uma Itália enfraquecida e politicamente instável podem ser fatais. A UE teria que resgatar a Itália com centenas de bilhões de euros. O resgate da Grécia teria sido apenas um leve exercício de aquecimento.
A Itália dança politicamente sobre um vulcão virtual que se comporta como o verdadeiro Vesúvio: ele ainda silencia, mas pode entrar em erupção a qualquer momento.
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