O chefe do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, é provavelmente o perdedor do ano. As futuras gerações lerão nos livros de história que foi ele o responsável por, com seu programa de compra de títulos em larga escala, abrir as comportas para que bilhões e bilhões de euros jorrassem nos mercados a cada mês.
As medidas foram implementadas com uma taxa básica de juros próxima de 0% na zona de moeda única. Isso soa como uma combinação perigosa – e de fato é. Draghi, o mágico da nova torre do BCE em Frankfurt, tentou estimular bancos a emprestar dinheiro generosamente para o mundo corporativo, de modo que as empresas investissem mais. Com isso, ele animaria a economia, fomentaria a inflação, e as pessoas passariam a comprar mais e mais.
O problema: seu plano não funcionou como ele queria. Os bancos optaram por guardar dinheiro, em vez de emprestá-lo – aceitando, inclusive, pagar juros de mora. As companhias não estão investindo mais, porque a economia global não está estável. As economias da zona do euro estão estagnando, com a inflação rondando a marca de zero.
Mas por que buscar a todo custo a inflação na casa dos 2%? Isso faz realmente sentido, sobretudo no momento em que o preço do petróleo cai e atinge um mínimo recorde a cada semana? Não seria este o verdadeiro problema?
A verdade é que os consumidores estão preferindo comprar – mas porque é melhor comprar bens e serviços do que manter o dinheiro guardado no banco sem qualquer recompensa. O gigantesco experimento de Draghi é como uma cirurgia cardíaca, que predominantemente leva a uma coisa: uma colossal depreciação do dinheiro. A taxa básica de juros próxima a 0% mantida pelo BCE significa apenas que o capital está sendo conduzido para a mão de especuladores.
Mas para as pessoas que tentam guardar dinheiro para a aposentadoria, isso não é nada mais que perverso. É claro que se pode investir no setor imobiliário, mas a próxima bolha está esperando para estourar – e mais cedo do que muitos gostariam.
As arriscadas políticas de Draghi levaram a um euro significativamente mais fraco perante o dólare, o que tornar mais baratas as exportações a partir da união monetária europeia. As duas moedas podem, inclusive, atingir a paridade em 2016. Mas isso ajudaria alguém mais, senão as já fortes exportações alemãs?
É verdade também que inundar os mercados com dinheiro ultrabarato acabou mantendo economias do sul do Europa, como a Itália, em funcionamento – um presente de Draghi para sua terra natal. Mas por quanto tempo mais a política monetária assumirá papéis da realpolitik?
Com isso, chegamos ao próximo grande tema, que se desenvolveu na Grécia. Alguém conseguiu contar quantas reuniões a UE teve que realizar até que se chegasse a um acordo para o resgate de Atenas, em troca de novas reformas? Por fim, houve um pacote de resgate. Porém, nada de substancial foi feito neste ano para ajudar a Grécia a ficar de pé novamente. A história deve se repetir em 2016.
Mas, em 2016, o assunto não deve atrair a mesma atenção, porque os políticos estarão mais preocupados com o maior problema da Europa no momento: a crise migratória. A maioria dos refugiados quer ficar na Alemanha, e não há sinais de que o fluxo cessará no próximo ano. É um grande desafio para a sociedade alemã e sua economia. Não há garantia que a situação sólida do mercado de trabalho no país se manterá.
A Alemanha não é uma ilha isolada da economia global, e não está claro o que poderia fazer perante uma possível recessão a nível mundial. A imigração em massa era algo previsível, mas ninguém quis encarar o problema. A próxima crise vai, certamente, chegar. Mas o governo alemão preferiu gastar bilhões com programas de bem-estar social, como a aposentadoria aos 63 anos.
Vamos torcer para que a crise econômica global não aconteça, porque Mario Draghi já gastou todas as suas fichas na tentativa de estimular o crescimento. Sua política monetária é veneno para a Europa, porque tende a prevenir reformas necessárias. Por isso, o lema para 2016 não pode ser outro, senão: "Parem o Draghi!"
Henrik Böhme é repórter de economia da redação alemã da DW.