O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, leu em Bruxelas em três idiomas – alemão, inglês e francês – o anúncio de que deixaria o posto para atuar na política interna da Alemanha. Detalhes mínimos como esse mostram até que ponto o projeto Europa é uma questão de coração para os social-democratas.
Schulz também está indo agora porque não pode prosseguir no cargo. Um pacto entre os partidos representados no órgão legislativo da União Europeia (UE) prevê que um representante do Partido Popular Europeu (PPE) assuma a partir de 2017.
Assim, o político social-democrata quer agora agir a partir de Berlim – e provavelmente não apenas como simples deputado. Dois postos entram em questão: o de ministro do Exterior ou a candidatura à Chancelaria Federal pelo Partido Social-Democrata (SPD).
Por enquanto ele não se manifestou sobre a que cargo aspira – ou se a ambos ao mesmo tempo. Das alas do SPD também pouco ou nada se ouve. Mas isso não é mau – pelo contrário.
Sobre a questão da candidatura à chefia de governo, o partido só pretende tomar uma decisão em janeiro. Até lá, o SPD se apresenta como uma legenda capaz de oferecer pelo menos dois pesos-pesados da política: de um lado, Martin Schulz; do outro, naturalmente, o chefe de partido e atual vice-chanceler federal, Sigmar Gabriel.
Nas duas eleições anteriores na Alemanha, em 2009 e 2013, a decisão quanto ao candidato social-democrata foi tomada de forma muito precipitada, sempre acompanhada por querelas partidárias internas. A consequência foram campanhas desastrosas e, no fim, esmagadoras derrotas perante Angela Merkel.
Tal erro não deve se repetir desta vez. Em vez disso, o SPD quer manter o suspense e se beneficiar disso. Até agora a estratégia está dando certo, até porque Gabriel e Schulz se entendem bem e obviamente mantêm um relacionamento de confiança mútua.
Aparentemente o acordo entre ambos é que, se Gabriel quiser concorrer, não haverá resistência. Caso ele resolva que seu amigo Schulz é o candidato mais promissor, este teria, então, sinal verde.
Nas eleições para o Parlamento Europeu de 2014, Schulz provou que sabe conduzir uma campanha eleitoral. Como candidato favorito em nível europeu, ele pode não ter garantido a maioria para os socialistas no Parlamento – e também ninguém esperava isso. No entanto, fez crescer em notáveis seis pontos percentuais a preferência eleitoral do SPD na Alemanha, até 27,6%. Num pleito legislativo nacional, tal resultado já seria um verdadeiro êxito para os social-democratas.
Não obstante, ter Schulz à frente do Ministério do Exterior igualmente seria uma boa opção do ponto de vista do SPD. Ele é experiente no plano diplomático, tem excelentes contatos e é respeitado para além das próprias alas partidárias.
Além disso, Schulz construiu para si a reputação de falar abertamente. Isso seria tanto uma mudança bem-vinda em relação ao atual chefe da diplomacia alemã, o antes cauteloso Frank-Walter Steinmeier, quanto um contraponto à linha da chanceler federal Merkel, mais amiga dos tons velados e da atuação nos bastidores.
Schulz como ministro do Exterior poderia, portanto, realçar o perfil do SPD, tornando-se consequentemente um bom elemento numa campanha de Gabriel pela Chancelaria Federal.
De uma forma ou de outra, a decisão de Schulz só traz vantagens para o Partido Social-Democrata. A única condição é ele se ater à disciplina partidária e não começar a forçar uma decisão em público, confrontando Gabriel.