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Conferência sobre Venezuela em Lima foi esforço em vão

Javier Arguedas
Javier Arguedas
7 de agosto de 2019

Todo mundo concorda que a situação precisa mudar na Venezuela. Mas como isso pode ser alcançado? Tal reflexão só faz sentido se todas as partes com poder de decisão estiverem à mesa, opina Javier Arguedas.

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Conferência busca uma saída pacífica para a crise venezuelana, ainda que sem a presença de países que apoiam Maduro
Conferência busca uma saída pacífica para a crise venezuelana, ainda que sem a presença de países que apoiam MaduroFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Mejia

Um belo nome: "Conferência Internacional para a Democracia na Venezuela". E, ainda assim, o evento realizado em Lima nesta terça-feira (06/08) teve pouco a ver com esse título. O resultado dificilmente difere de dezenas de outras reuniões que tentaram em vão encontrar uma solução para a crise venezuelana.

A conferência foi certamente internacional, mas os participantes mais importantes não estiveram presentes. O chamado Grupo de Lima, formado em 2017 para fazer frente a Nicolás Maduro, vem se reunindo com frequência nesses anos. E há um posicionamento comum: ele rejeita vigorosamente um diálogo entre Maduro e a oposição. Isso distingue o Grupo de Lima de outras iniciativas.

No entanto, o próprio grupo sublinhou repetidamente a importância de se ampliar o fórum a outros países e instituições, a fim de debater a situação na Venezuela. A última conferência deveria ter feito exatamente isso. Teria sido uma grande chance para conversar com a China ou a Rússia, mas também com países latino-americanos como Bolívia, México e Uruguai, que continuam considerando Maduro o legítimo presidente venezuelano.

Mas todos esses países cancelaram sua participação. A razão: não se tratava exatamente de uma conferência, mas de uma lista de desejos dos Estados Unidos. Na véspera da reunião, os americanos impuseram novas sanções a Maduro e ao governo venezuelano. Países e empresas que fazem negócios com a Venezuela, com o presidente ou com empresas estatais venezuelanas podem esperar perder no futuro seus negócios nos EUA.

Essa medida aumenta significativamente a pressão sobre Maduro, mas, ao mesmo tempo, reduz a troca séria de ideias a fim de encontrar uma saída para a crise. O aceno suave das sanções mais severas contra a Venezuela (que provavelmente serão adotadas por outros participantes da conferência) fica na mão dos apoiadores de Maduro. Agora, eles podem criticar os Estados Unidos e o Grupo de Lima de forma ainda mais violenta. Também podem contar com vozes proeminentes como a do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que já criticou sanções americanas anteriores por agravarem a situação precária dos venezuelanos.

Aqueles que se opõem a um diálogo entre Maduro e a oposição, por outro lado, se queixam, e com razão, de que Maduro usou até agora o diálogo como instrumento para se manter no poder. A única questão é se a pressão econômica draconiana é realmente a melhor alternativa. De qualquer forma, outras propostas não foram apresentadas em Lima nesta terça-feira.

Certamente, todos os participantes da conferência são a favor da democracia. Mais uma vez, exigiram conjuntamente eleições livres e transparentes na Venezuela. Porém, ficou aberta a pergunta sobre como essas eleições livres devem ocorrer, assim como o papel que Maduro deve desempenhar durante – e especialmente após – o pleito. Maduro mostrou dolorosamente ao mundo que ainda tem controle sobre seu país. Sem envolvê-lo de alguma forma no processo, a situação política na Venezuela não mudará.

O fato de, no final da conferência, ter sido discutido com otimismo o futuro promissor da Venezela "no dia seguinte à queda de Maduro" não melhora a situação, enquanto o caminho que levará a esse desejável cenário não estiver claro. Especialmente entre aqueles que temem que tais conferências venham a ser usadas apenas para legitimar uma intervenção militar na Venezuela – uma opção que nem os EUA nem a vizinha Colômbia até agora descartaram.

Na Venezuela, o povo continua sofrendo: escassez de alimentos, apagões, uma taxa de inflação astronomicamente alta. Os venezuelanos aprenderam ao longo dos anos que as manifestações dificilmente levam à mudança. Líderes oposicionistas repetidamente lhes deram esperança e depois os decepcionaram. Poucas pessoas acreditam que será diferente com Juan Guaidó. Os representantes em Lima do presidente autoproclamado criticaram a opção de um diálogo com Maduro, enquanto se sabe que o próprio Guaidó conduz conversações com representantes de Maduro sob intermédio da Noruega.

Os venezuelanos, que precisam enfrentar horas em filas para comprar alimentos ou buscam medicamentos em vão, têm outras preocupações para além das muitas conferências unilaterais que estão sendo realizadas sobre seu país. Talvez eles saibam que elas não vão ajudá-los.

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